Andamos tão carentes de relações reais que, do nada, esbarramos em pessoas de forma acidental e descobrimos em minutos de convivência que existe por aí gente semelhante a nós; gente que acredita, almeja, sonha e persegue os mesmos ideais que nos movem. O que nos falta é tirar a cabeça do modo automático e dirigir nossas vidas utilizando nossas próprias mãos. O resultado pode ser surpreendente!
A ansiedade é o combustível universal da atualidade. Vivemos ansiosos, por resultados, por conquistas, por reconhecimento. E, que coisa mais maluca: vivemos ansiosos para nos livrar da ansiedade. Haverá solução para nós? Ouso acreditar que sim. Ora, a ansiedade é fruto da nossa confusão mental. Diferente do medo, que tem causas reais e palpáveis, a ansiedade nasce de uma excitação mental. Ela é alimentada por pensamentos acelerados que buscam encontrar, de forma imediata, conforto para sensações de perigo.
Quando ainda vivíamos nas cavernas, a ansiedade tinha um aspecto mais visceral, e era um elemento indispensável para que conseguíssemos prever o perigo. Depois de alguns (nem tantos, né?), anos de evolução, está claro que não temos mais que sair por aí escalando árvores ou caçando o que comer. Tampouco, precisamos escapar de quem esteja nos caçando como prato principal do almoço ou jantar. No entanto, fizemos trocas. A nossa “sobrevivência”, hoje, está ligada ao medo de perder status, conforto, relacionamentos amorosos, amizades, e tantas outras milhares de coisas que sustentam a nossa vida e a nossa vaidade. Trocamos alguns poucos itens de sobrevivência por infinitos objetos de desejo, cuja lista não para de crescer.
Do ponto de vista dos relacionamentos, sejam eles amorosos ou não, vivemos perdidos por não ter a real ideia do que de fato estamos procurando. Muitas vezes, procuramos por afeto ou companhia, seguindo uma espécie de “manual de instrução do viajante perdido do século XXI”. Nosso comportamento de busca é tão desorganizado que, qualquer novo critério nos atinge. Vivemos com a cabeça tão entupida de verdades, que nos esquecemos de lembrar que somos mentirosos por natureza. Mentimos sobre tudo! Principalmente, mentimos sobre o que sentimos. Mentiras sinceras nos interessam, essa é que é a verdade.
Nessa altura, estimado leitor, pode ser que você esteja balançando sua linda cabecinha (cheia de verdades), para lá e para cá. Instalou-se em seu rosto uma expressão indignada e você está pensando “Eu não me enquadro nisso! De jeito nenhum! Detesto mentira!”. Ahhhhh… tá! Só de ser atacado por essa suposta onda de revolta, você já é um mentiroso. Por favor, não se ofenda. Ou, se ofenda… Caso isso seja necessário para tirar você dessa postura empedernida da defesa hipócrita! Aleluia! Veja bem, não estou aqui fazendo nenhuma apologia da mentira. Apenas estou fazendo a minha confissão sobre algo que é incontestável: para podermos sobreviver, mentimos muito.
Muitas vezes, faltamos com a verdade com a nossa própria consciência, de forma pouco consciente. Por exemplo: você está em vias de conseguir uma colocação naquela empresa altamente qualificada e avaliada como “a empresa dos sonhos”. Neste momento, você convenientemente, ignora algumas de suas características pessoais e veste uma capa de funcionário ideal para o emprego dos sonhos. Numa situação dessas, você só vê o lado bom das coisas. Pronto! Você está mentindo. A dura verdade é que não há nada (nada mesmo!) nesse mundo que só tenha lado bom ou seja completamente virtuoso!
E, tudo bem você mentir. Até porque as verdades são coisinhas extremamente volúveis. O que hoje é verdade, amanhã não é mais. É meu amigo… Está ficando cada vez mais complicada a nossa sobrevivência longe das queridas caverninhas.
E, é nessa conjectura de afogamento dos sonhos para encontrar a paz, que saímos da nossa casquinha de perfeição e resolvemos olhar para nossa necessidade de afeto com olhos mais benevolentes. É abrindo mão do nó das idealizações que acabamos encontrando nossos pares, sejam eles para escrever conosco uma história de parceria ou nos completar com promessas de amizade ou amor. É sem armaduras douradas e perfeitas que vamos ao encontro do estranho, que de perto, nem é tão estranho assim. É sem a expectativa do maldito “manual de instrução” que nos damos ao luxo de encontrar a deliciosa sensação de intimidade que, acredite, é o que mais nos falta neste mundo maluco, para nos sentirmos mais humanos.
Imagem de capa meramente ilustrativa- cena do filme argentino Medianeiras
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