Por Nara Rúbia Ribeiro
Dizem que há, nas águas dos rios, botos de extraordinária inteligência e profundo conhecimento da arte encantatória. Eles têm poderes especiais e os utilizam para visitar o mundo dos homens e trazer amor às mulheres.
Nas noites de junho, em meio às festas juninas, quando um boto rosa entende ser o certo momento, ele se transforma num homem forte, alto, de espantosa beleza. Suas palavras são poéticas e a sua voz, embora grave, tem a doçura dos rios em que vive. Seus olhos trazem a sede às mulheres. É assim que ele as convence.
Ele vai a festas juninas, sempre de chapéu para encobrir parte do rosto e esconder o único e último vestígio de sua forma antiga: o seu grande nariz. Assim ele escolhe, dentre todas as mulheres desacompanhadas, a mais bela. Ele a chama para dançar e diz aos seus ouvidos o que há de mais terno. Seus olhos de boto a deixam com sede de amor e, então, ele a convida para um passeio no fundo rio. E ela o aceita.
Sobre as águas, num feito mágico, boto e humana se amam. Finda a noite, ela retorna ao mundo dos homens e ele retoma a sua forma de boto e desaparece para sempre nas águas.
Contudo, entrega aos humanos algo sem preço. A mulher apalpa o ventre e compreende: o boto lhe deixara um rebento. E assim a humanidade se vê enfeitada de humanos meio homem, meio boto. E a mulher entrega ao mundo dos botos um coração, pois, diz a lenda, que após provar o amor de um boto rosa, a mulher se faz incapaz de a um homem amar.
Leia outras lendas em: Recontando as Lendas Brasileiras
Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
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