Quando me pediram pra escrever sobre a experiência de ser pai, fiquei com medo de dar uma resposta daquelas que filho dá quando você pergunta como foi a escola: legal. E como foi o passeio? Legal. A visita ao médico? Legal. E como foi que você caiu e ralou o joelho? Legal.
Fico olhando para a barriga onde meu filho cresce e várias coisas me passam pela cabeça. Não sei se foram os filmes de alien, mas caramba! Essa foi a melhor solução que a natureza encontrou? Deixar ele crescendo ali, dentro de outra pessoa? Sério? Às vezes eu acho que até ovo seria mais negócio. Eu nem ia me importar se tivesse que ajudar a chocar. Era só me dar um livro e tava tudo certo.
Tem gente que me olha com espanto quando fica sabendo que vou ser pai, mas só alguns têm a coragem de fazer a pergunta: Nossa, mas você não acha meio loucura trazer uma pessoa pra esse mundo? Do jeito que ele anda? Acho que eu sou incorrigivelmente otimista ou sei lá, vai ver que eu acredito mesmo nessa história de que não somos nós que escolhemos ter filhos e sim, eles que escolhem ter pais. Não sei mesmo, mas eu prefiro acreditar que ainda dá pra vir pra esse mundo, que ele ainda tem chance de ser habitável.
Ao mesmo tempo, quando a gente olha para um mundo de corrupção, destruição e intolerância, sempre se levanta o questionamento: vale a pena perpetuar essa espécie? Uma espécie que vira o rosto quando está em segurança e um predador ataca os que estão desprotegidos, no meio da planície? Que canibaliza de várias maneiras os membros mais fracos do bando? Que na maior parte das vezes se comporta como um vírus que destrói o seu hospedeiro? Vale a pena insistir nisso?
Sei lá, eu meio que teimosamente acho que sim, mas ao mesmo tempo sei que é a visão parcial de alguém que já é pai de alguém e que espera a chegada de outro alguém para breve. E essa espera gera um amor tão grande, tão incomensurável, que nubla qualquer arremedo de razão, por mais que eu tente me colocar numa distância racional que me permita fazer uma análise minimamente fria. Mas não tem jeito. Só de escrever esse parágrafo, pensando nos dois, meus olhos já se encheram de lágrimas. Pequena pausa pra respirar.
Voltei. É uma droga, quando somos derrotados por nós mesmos e a gente não consegue segurar nem uma emoção boba, mas é isso, é essa a matéria de que somos feitos. Ainda acho que dá pra acreditar numa geração que pode vir e começar uma outra época, melhor que essa. Não vou descrever como eu acho que poderia ser, todo mundo pode imaginar os lugares-comuns de sempre e customizar essa utopia de acordo com as suas inclinações. Podem ficar à vontade, porque nisso a imaginação de cada um deve ser estimulada. Vai que, se todo mundo sonhar junto, ainda que sonhos diferentes, alguma melhora acontece?
Além de louco, podem me chamar de ingênuo ou sonhador (é só usar o espaço pra comentários aí embaixo), mas eu acho que as coisas estão melhorando, que têm melhorado.
Tem bastante corrupção? Tem, mas eu acredito que é o começo de uma melhora. Dá pra imaginar você chegar na década de 70 ou 80 e dizer que os presidentes de grandes empreiteiras seriam presos? Ou que a cúpula de um partido poderia ser presa enquanto este mesmo partido estivesse no poder? E taí, tá acontecendo.
Tem muita violência? Pra caramba, já que temos Taliban, Estado Islâmico, Al-Qaeda, Boko Haram e, por aqui, os personagens da nossa guerra civil. Mas já foi pior, acredite. É só colocar tudo em uma perspectiva histórica e sair daquele comentário-padrão de “não sei onde esse mundo vai parar” a cada crime que é eleito para receber a atenção da mídia.
Eu sei que sempre tem a chance de tudo piorar, claro, e os avanços são lentos e pequenos. Para cada grande livro que é escrito, existem milhões de comentários raivosos mal-digitados nos sites de notícia. Para cada grande invenção que chega pra ajudar a humanidade, milhões de pequenos atos que a atrasam são praticados. Mas é como tem sido e temos continuado a marcha, trazendo na bagagem Mozart, Shakespeare e Einstein, enquanto tentamos resolver os grandes estragos causados por um Hitler. Ou os pequenos, causados por quem jogou uma garrafinha de plástico na rua ontem e que vão se tornar imensos, quando somados. Vamos caminhando e encontrando formas de melhorar a caminhada.
Talvez a tecnologia venha nos salvar de nós mesmos, ao invés do que profetizam todos os filmes de ficção científica e até o bom-senso. Todos nós trazemos a corrupção e a violência de berço, incrustados no nosso código genético. É fruto do nosso instinto de sobrevivência, de preservação, que um dia foi decisivo pra gente sobreviver no meio dos tigres-dentes-de-sabre. Mas acho que as coisas mudaram um pouco nos últimos milhares de anos e já dá pra gente começar a pensar em abrir mão dessa herança. A razão pode assumir o lugar desse instinto e através dela é que poderemos sobreviver nessa nova selva. Pra isso, temos que olhar para nós mesmos e identificar as nossas próprias doses de corrupção e violência. Na maior parte das vezes, elas são controladas, mas só precisam de um ambiente propício pra florescer. Talvez seja esse o papel da tecnologia e da razão, o de diminuir cada vez mais o tamanho e a quantidade destes ambientes propícios. Claro que isso vai cobrar o seu custo em outras áreas, mas não é assim que tudo funciona?
Bom, acho que acabei falando mais que só um “legal”. Mas no caso da experiência de ser pai, talvez seja mesmo mais o caso de falar menos e sentir mais. E no máximo, dizer que é legal. É muito legal.
Que bom que você já está por aqui, João Gabriel. E seja bem-vindo, Diogo. Tomara que eu possa mostrar pra vocês que esse mundo também pode ser legal. E vamos ver o que a gente pode fazer juntos, pra deixar ele ainda mais legal.
Uma história impactante e profundamente emocionante que tem feito muitas pessoas reavaliarem os prórios conceitos.
Um filme charmoso e devertido para te fazer relaxar no sofá e esquecer dos problemas.
O escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme Ainda Estou Aqui,…
A produção, que conta com 8 episódios primorosos, já é uma das 10 mais vistas…
A Abracine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) considera este um dos 50 melhores filmes…
Os nomes próprios carregam mais do que apenas uma identidade. Eles revelam histórias, culturas e…