Categories: Sem categoria

A má vontade disfarçada

Puxa, que pena que as pessoas andam tão ocupadas… Que chato é querer muito matar umas saudades já crescidas e não conseguir por falta de tempo; não poder sentar em um banco de praça e comer pipoca; possuir o direito de escolha, os meios de realização, a razão para aconselhar, a intuição para confirmar, a emoção para empurrar, mas preferir dar a mão à má vontade e ainda colocar a culpa no tempo.

Um convite declinado é quase sempre uma oportunidade perdida. Vai saber o mundo que estaria aguardando se a resposta fosse outra.

Uma chamada recusada, salvos os momentos de real impossibilidade, deixa uma ponta de rudeza, apesar das desculpas sempre cheias de detalhes coloridos e interessantes.

O abre alas da má vontade é a falta de tempo. O tempo que colocamos na posição de um senhor controlador e austero, que só demonstra colaboração para as tarefas que precisamos realizar, mas total desprezo pelas coisas e pessoas que queremos acessar. O tempo, pela versão da dona má vontade, é um tirano. É ele que não deixa que vejamos os amigos, que tiremos uma tarde para fazer nada, que alcancemos o telefone para dizer tão e somente um: Oi, como você está?

O tempo faz isso com a gente, mas, e ao mesmo tempo, sempre ele, ele nos deixa interagir horas seguidas com o mesmo telefone, nos aplicativos que nos mostram para o mundo, ainda que nos mostrem quase sempre editados e melhorados. Nessa questão nem percebemos o passar do tempo.

A má vontade pensa que é má para o outro, para o que ouviu a recusa, a desculpa, a mentirinha branca.

Mas, uma vez desobrigada de fazer o que pensava não querer, ou que estava com preguiça, ou que não valia à pena, a má vontade tira o disfarce, pendura na cadeira e vai ficar sozinha novamente, talvez sonhando com outra má vontade ainda maior, que hoje lhe deu um cano.

E o tempo, esse senhor de atitudes controversas, vai fazendo o papel de escudo, protegendo quem pede para ser protegido, mas, e felizmente, oferecendo bastante tempo a quem não quer fazer o pacto com a má vontade.

Emilia Freire

Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.

Recent Posts

Por que casais falam com voz de bebê?

Se você já presenciou um casal adulto conversando em tons infantis, com vozes suaves e…

15 minutos ago

Nova série de suspense da Netflix tem 6 episódios viciantes e um desfecho surpreendente

Você não vai querer sair da frente da TV após dar o play nesta nova…

11 horas ago

Somente 3% das pessoas é capaz de encontrar o número 257 na imagem em 10 segundos

Será que você consegue identificar o número 257 em uma sequência aparentemente interminável de dígitos…

12 horas ago

Com Julia Roberts, o filme mais charmoso da Netflix redefine o que é amar

Se você é fã de comédias românticas que fogem do óbvio, “O Casamento do Meu…

24 horas ago

O comovente documentário da Netflix que te fará enxergar os jogos de videogame de outra forma

Uma história impactante e profundamente emocionante que tem feito muitas pessoas reavaliarem os prórios conceitos.

1 dia ago

Nova comédia romântica natalina da Netflix conquista o público e chega ao TOP 1

Um filme charmoso e devertido para te fazer relaxar no sofá e esquecer dos problemas.

1 dia ago