Marcel Camargo

A Maldição da Residência Hill: os fantasmas mais assustadores são os que habitam dentro de nós

Uma família, os Crane – pai, mãe, três filhas e dois filhos -, muda-se para uma mansão de oitenta anos e logo começa a presenciar fatos sobrenaturais. Eis o mote que embala os dez episódios da primeira temporada da série “A maldição da residência Hill”, que consta no catálogo do canal Netflix.

Trata-se de uma adaptação, de Mike Flanagan, de um livro de terror da escritora Shirley Jackson. O ar sombrio da mansão, principalmente à noite, carrega o tom dos fenômenos sobrenaturais que se vislumbram notadamente nas longas horas da madrugada. Passado e presente se encontram e desencontram, descortinando aos espectadores as histórias e as experiências de cada personagem.

O enredo e a forma como é conduzido acabam por revelar muito mais do que as cenas retratam, levando-nos a refletir sobre tudo o que está por trás dos acontecimentos, tenham sido reais ou imaginários. Interessa, muito mais, desvendar o que se encontra dentro de cada membro da família, ou seja, os fatores externos comportam-se como alegorias das dores que aquelas pessoas carregam e das dores que elas causam entre si.

Não importa tanto a assombração que as cerca, mas sim as escuridões que as personagens alimentam em seus corações, em suas almas, na dor mais íntima de cada um. Somos o que aconteceu conosco, o que não aconteceu, o que poderia ter acontecido e o que fazemos com tudo isso. A forma como digerimos o que a vida nos dá ou nos retira determina o tanto de fantasmas que levamos junto em nossas jornadas.

Os fantasmas mais assustadores, portanto, são aqueles que nós mesmos criamos: as dores, as culpas, os remorsos, as doenças, a solidão, a impotência diante das tragédias pessoais a que todos estamos sujeitos. Podemos nos fechar, como a Theo, ou nos dopar, como o Luke. Podemos buscar entendimento na escrita, como Steven, ou mesmo tentar a redenção no autoflagelo, como a Nell. O passado sempre nos acompanhará e caberá a nós fazer as pazes com ele, de forma a nos mantermos inteiros nesse percurso que temos pela frente.

É preciso perdoar. É preciso perdoar-se. Se erramos, mas aprendemos. Se ferimos, mas em nós também doeu. Se falhamos, mas nos arrependemos. Perdoar-se. Vai doer, e muito, vai ser penoso, mas enfrentar os nossos fantasmas, entendendo que o que aconteceu não pode ser mudado, mas que o agora e o amanhã são, de certa forma, nossos, é o que nos salvará de nos perdermos dentro da escuridão íntima, em meio ao peso das histórias que nos marcaram.

E essa é uma das mais importantes lições que poderemos aprender diante da história da família Crane. Diante de nossa própria história.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

O filmaço romântico que está tocando o coração de milhões com sua trama apaixonante

Se você está à procura de um filmaço que mistura romance, humor e uma pitada…

1 dia ago

O filme intenso e saboroso da Netflix que vai te fazer ficar em casa esta noite

Se você estava procurando um bom motivo para não sair de casa hoje, saiba que…

2 dias ago

Professora causa confusão ao sugerir que estudante com dois pais é adotado

O estudante é fruto de um arranjo familiar em que a mãe biológica é irmã…

2 dias ago

Esta comédia romântica estrelada por Kate Hudson é uma das apostas certeiras na Netflix

Se você é fã de comédias românticas, provavelmente já ouviu falar de "Como Perder um…

2 dias ago

Série sedutora e envolvente da Netflix com apenas 6 episódios vai te fazer perder o ar

É impossível resistir aos seis deliciosos episódios desta série que está disponível na Netflix.

3 dias ago

Filme absurdamente lindo da Netflix tem só 14 minutos e faz as pessoas se desfazerem em lágrimas

Poucas pessoas conseguem passar pelos 14 minutos arrebatadores deste filme sem derramar uma única lágrima.

3 dias ago