Vivemos, hoje, uma exposição aos ruídos incessantes, do trânsito, da televisão, dos celulares, das tagarelices, das gritarias, das fofocas, das desavenças políticas na internet e nos espaços públicos, da violência como regra, etc, que embotam o espírito e exaurem a nossa psique.
Além disso, estamos expostos as mentiras fantasiadas de verdades, as opiniões dos autointitulados especialistas, as bobagens concebidas de bom senso, as conversas hipócritas, ao anti-intelectualismo e a todos os tipos de preconceitos, tudo liquefeito nas redes sociais.
É nesse cenário que surgem os discursos midiáticos, políticos e religiosos, que cercam os nossos dias, com suas superstições e tolices, tendo como objetivo incapacitar os nossos sentimentos e pensamentos mais autênticos. Esse lado feio da natureza humana está enraizado pelo narcisismo, que nos induz para o campo da fraude e da infâmia, conforme nos mostrou Freud.
Assim, a melhor religião é aquela que nos “blinda” contra a baixeza humana, com sua tendência neurotizante, que nos segrega e joga uns contra os outros, evocando mais covardia do que coragem para viver em sociedade.
Os grandes mestres religiosos romperem com a hipocrisia da sua época, tão comum em nossos dias, reforçando os laços vitais com os seus semelhantes. Para eles, a melhor religião é aquela que contribui na formação de uma personalidade saudável, que nos permite habitar neste mundo ruidoso, sem sucumbir a ele.
Aliás, para Jesus, Buda, Confúcio e outros iluminados, a melhor religião é aquela que constitui a antítese da miséria da alma, que proporciona o gosto pela vida, o senso de ternura e a capacidade de desfrutar dos relacionamentos humanos, com tranquilidade e simplicidade, baseada na confiança Divina.
Isso me lembrou que durante um intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, Leonardo Boff perguntou a Dalai Lama: “Santidade, qual é a melhor religião?” O teólogo esperava que ele respondesse: “É o budismo tibetano ou as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo”.
Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, olhou os interlocutores e afirmou: “A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te transforma e faz melhor.” Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltou a perguntar: “O que me faz melhor?”
Respondeu ele: “Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável (…) A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião (…)”
Enfim, a melhor religião é aquela abundante de imagens simbólicas oriundas do inconsciente coletivo, de ensinamentos e rituais, de conexões entre o ego e as camadas mais profundas da vida psíquica, como confirmou Jung. É, espiritualmente, aquela que nos protege do lado sombrio do mundo, nos aproxima de Deus e nos permite viver em paz com os nossos semelhantes.
Jackson César Buonocore é sociólogo e psicanalista
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