A morte é um assunto difícil para todos nós e é ainda mais confuso para as crianças, todavia, um dia precisaremos falar com eles sobre ela e quando isso acontecer eles vão precisar de todo o nosso apoio e sinceridade.
Não existe idade certa para tocar no assunto. O ideal é que se espere a necessidade, seja pelo falecimento de alguém conhecido ou a curiosidade. Aos quatro ou cinco anos as crianças começam a entender as relações da vida e a ter acesso maior às informações, antes disso orientamos que não se adiantem sobre o assunto – a não ser que seja necessário. O que se pode fazer é ir mostrando aos poucos o ciclo da vida. Comece com uma plantinha e vá mostrando como ela nasce, cresce, adoece e morre. Aquele feijãozinho plantado no algodão pode ser um ótimo aliado. A criança pode vivenciar a perda de seu animal de estimação e esse momento, apesar de sofrido é muito rico para que ela crie repertório diante da perda de alguém querido. Cantigas, livros infantis e filmes que tratam do assunto também ajudam.
Existem três pontos sobre a morte que as crianças precisam compreender:
-Tudo que é vivo um dia vai morrer.
-Quando se morre, não há volta.
-Depois de morto, o ser não corre, não dorme, não pensa, não age.
Sobre velórios e enterros não se pode forçar, mas na idade que sugerimos acima, elas podem se beneficiar ao participar junto aos adultos deste ritual de passagem. Explique com detalhes o que é um velório e um enterro e pergunte se ela quer ir. Nunca decida pela criança deixá-la de fora. Os rituais servem para que todos vivenciem melhor a despedida, inclusive os pequenos. Não se preocupe: os especialistas concordam que velórios e enterros não traumatizam as crianças.
Diante da necessidade de contar que alguém morreu, não esconda nada, muito menos invente histórias. Frases como “ele dormiu para sempre”, “descansou” ou “fez uma longa viagem” só vão confundir a cabeça infantil. Crianças levam tudo ao pé da letra e podem achar que a vovó vai acordar ou que todo mundo que viaja nunca volta. É muito comum também usar a famosa “o vovô virou uma estrelinha”, o que pode levar a criança a acreditar nisso literalmente e ficar elaborando maneiras de chegar até lá. As crianças de até cerca de 10 anos não abstraem. O seu psiquismo em construção não consegue captar os conceitos subjetivos. Elas constroem os conceitos a partir do concreto.
Se a morte for por doença, a criança deve estar por dentro de todo o processo. Explique que a pessoa está doente e que é grave, lembre-a do ciclo da vida da plantinha. Quando tiver que dar a notícia, fale com calma, com acalento e use sempre a palavra ‘morte’ – isso é bastante importante. Se a morte for inesperada, aja da mesma maneira – nesses casos, todos estão sofrendo, por isso apoiem-se uns aos outros. Abra espaço para tirar todas as dúvidas que podem estar passando pela cabeça da criança. Não é necessário esconder as emoções, apenas observe se sua atitude não está sendo traumática.
E quando ela perguntar o que significa morrer? Primeiro, elabore seus próprios conceitos sobre a morte e sobre a possível continuidade da vida, porque só poderemos responder às crianças respeitando nossa própria verdade. Explique que nem todos pensam como papai e mamãe, fale sobre as versões de outras religiões, inclusive do ateísmo e lembre que é preciso respeitar todas elas. Mais uma vez vem o conselho de todos os especialistas: seja honesta! Nem sempre você terá todas as respostas e quando não tiver busque-a junto com seu filho.
Durante o luto demonstre que, como ela, você também está sofrendo e sente saudades. Deixe que a criança fale sobre seus sentimentos e, acima de tudo, dê apoio e acolhimento. Garanta que ela nunca estará sozinha e sempre haverá alguém para cuidar dela. Isso porque o ente que se foi pode ser um dos pais ou a criança pode se sentir insegura ao pensar na mortalidade deles. Não exclua as crianças das conversas, da tristeza. Ouça o que elas têm pra falar ou peça para que desenhem o que estão sentindo.
É natural que os pequenos apresentem mudanças de comportamento depois que recebem a notícia da morte de alguém com quem convivem. Além do choro e da raiva, alguns apresentam dificuldades na escola, hiperatividade ou até ficam doentes. Considere a ajuda de um psicólogo e até da escola. É importante que a criança sinta que tem o apoio e a atenção dos colegas e dos professores.
Assim como acontece conosco, a memória afetiva nunca vai desaparecer. Depois de certo tempo, todos nós alcançaremos o chamado luto saudável, quando se percebe que é possível se lembrar do ente querido de forma leve e sem sofrimento.
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