Outro dia, enquanto assistia ao meu celular carregando, fiquei pensando sobre a morte e a vida das coisas.
Um notebook se cala e uma tomada lhe oferece outra chance, uma ressureição; o controle do vídeo game silencia, e um carregador de pilhas já o espera na tomada; a câmera fotográfica está pronto para, novamente, tornar a imagem estática quando lhe oferecem meia horinha de energia à bateria.
Inventamo-nos diversas vidas para os objetos e a isso damos o nome de Ciência. Quantas milhares de horas na vida de cientistas foram sacrificadas para que tenhamos a garantia da sobrevivência das coisas? Quantas mãos não caminharam entrelaçadas porque um carregador mais rápido e potente estava sendo criado por estudiosos que não aprenderam, ou tiveram tempo, de ao menos soletrar “eu te amo”?
Penso que o ser, sabendo da sua incapacidade em garantir sua perpetuação, revive no que inventa. Semana passada mesmo, vi um rapaz quebrando o carregador de um telefone porque ele já não funcionava tão bem. Pisava o aparelho, xingava-o em palavrões que aqui não cabem.
Não agredia o telefone com a tela escura, morta, agredia a inércia daquele que foi criado para fazer reviver. Atacava o único capaz de lhe mostrar a sua incapacidade de se reinventar.