A perfeição é uma pedra cheia de pontas, prontas para nos ferir

A perfeição é uma pedra. Por mais que se queira e tenha boa vontade, não há o que se fazer com ela! Ah… Tenho certeza que você já foi logo imaginando uma pedra preciosa, não é mesmo? Não! A perfeição é uma pedra feia, cinza, coberta de musgo, cheia de pontas, prontas para te ferir. E é pesada. Muito pesada.

A perfeição é uma pedra. Daquelas que você tem vontade de empurrar ladeira abaixo. No entanto, não é aconselhável fazê-lo. Muitos inocentes seriam atropelados. Os culpados nunca estão no caminho das pedras. Eles se protegem no alto, no pico, distante das mazelas humanas. Nunca serão atingidos. Os culpados criaram a perfeição. A perfeição, a pedra cristalizada do sentimento de culpa.

E o culpado, não tendo como livrar-se da culpa, cria rapidamente um estereótipo de perfeição. Pronto. Decretam o modelo do correto, do ideal, do perfeito. A perfeição não existe. Não na vida real. Onde os dias frios esquentam sem avisar e as manhãs quentes se transformam em tardes frias sem pedir licença. O grande amor acaba sem querer voltar. O mar avança sem orientação. O corpo envelhece sem apelação.

Anseio pelo dia em que nossas imperfeições encontrem um jeito de serem conhecidas, reconhecidas e respeitadas, em primeiro lugar por nós mesmos, para em um outro ponto, o serem pelos que nos querem bem; e quem sabe, então, seja possível que o sejam por todos. Assumir que somos imperfeitos há do nos fazer mais tranquilos, mais flexíveis; há de nos colocar em condições de sermos apresentados à compaixão.

A imperfeição, ao contrário da solidez de sua opositora, é fluida; corre livre por entre as experiências da vida; é capaz de se diluir em abraços de compreensão; é capaz de lavar as dores com suas lágrimas genuínas; é capaz de se transformar em habilidades possíveis; recém-conhecidas e conquistadas.

Uma vez assumida nosso permanente estado de construção, encontraremos infinitas opções de lugares a visitar, dentro e fora de nós. Quando formos humildes o suficiente para olhar nos olhos de nosso semelhante e dizer “não sei”; “preciso de ajuda”; “me deixe te ajudar”; “não consigo te acompanhar”; “tenho medo de você”; seremos apresentados a uma outra versão de nós mesmos; uma versão de nós livre da pedra da perfeição, pronta para inaugurar uma nova vida.

Imagem de capa: Anastasiia Fedorova/shutterstock







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"