Por Josie Conti
Mesmo que não tenhamos a passagem das estações tão marcada quanto no hemisfério norte, sabemos que o inverno trará mudanças.
Na rua, já não vemos mais a sombra rendada das folhas que caíram em sua dança outonal e vestiram a mãe terra com suas próprias roupas.
Em nossas casas, as cobertas começam a ser retiradas do guarda-roupa, lembramo-nos da sensação de dormir abraçados pelo tecido que nos aquece o corpo e o nosso dormir volta a ser útero, tempo de gestação. A temperatura, levemente maior do que o necessário em nosso ambiente protegido, também nos torna mais simpáticos àqueles que sofrem com o frio, que estão desabrigados.
Aqui perto de mim também acontecem mudanças. Depois de vários anos, os vizinhos vão se mudar. Mudam-se com eles o barulho, as brigas frequentes, o choro das crianças, os cães, os gatos e até a maritaca. É como se um pequeno caos existencial deixasse de fazer parte da minha vida. E, confesso, já sinto falta deles.
Lembro-me, como se fosse ontem, da menina mais velha, ao descer um degrau, matou acidentalmente uma maritaca. A sequência dos acontecimentos foi cinematográfica: o escândalo da mãe, da avó e os berros da filha ecoavam em quarteirões. A menina injustamente punida por um crime do qual não teve intenção. A mãe, sem permitir o luto, substituindo imediatamente o animal por outro. A avó, percebendo o exagero, tentando proteger a neta.
Tê-los como vizinhos era ter em xeque diariamente crenças, valores e posturas sociais com as quais éramos acostumados. Presenciar sua vivência, de certa forma, sempre fez com que eu me sentisse um pouco morna demais.
Durante a separação do casal, as brigas com o ex-marido traziam em si as palavras que todos que um dia já passaram por um rompimento quiseram dizer. Palavras nuas, obscenas, escrachadas. Todo o ódio e frustração canalizados na forma verbal. Ouvi-los, mesmo que não intencionalmente, era um misto de catarse pessoal, observação voyer e a prova do motivo do sucesso das novelas mexicanas.
Com eles, além da intensidade humana, vai a experiência da diversidade que nos é tão rica e necessária. E, ao contrário do que jamais pensei dizer, espero que esse inverno traga vizinhos novos, polêmicos, exóticos, outras pessoas que nos façam lembrar que a beleza da vida está nos opostos e em todo o questionamento que isso pode provocar em nossas verdades.
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