Por Gema Coelho
Há feridas que não são vistas, mas que podem se alojar profundamente em nossa alma e conviver conosco pelo resto das nossas vidas. São as feridas emocionais, as marcas dos problemas vividos na infância e que determinam, muitas vezes, como será nossa qualidade de vida quando adultos.
Uma das feridas emocionais mais profundas é a da rejeição, porque quem sofre com ela se sente rejeitado internamente, interpretando tudo o que acontece ao seu redor através do filtro da sua ferida, se sentindo rejeitado em situações em que, na verdade, não é.
Vejamos com mais detalhes no que consiste esta ferida.
Rejeitar significa resistir, desprezar ou recusar, o que podemos traduzir em “não amar” algo ou alguém. Essa ferida nasce da rejeição dos pais para com seus filhos ou, às vezes, por se sentirem rejeitados por seus progenitores, mas sem realmente haver intenção por parte deles.
Diante das primeiras experiências de rejeição, a pessoa começa a criar uma máscara para se proteger deste sentimento tão comovente, que está ligado à desvalorização de si mesmo e que se caracteriza por uma personalidade tímida, segundo as pesquisas realizadas por Lise Bourbeau. Assim, a primeira reação da pessoa que se sente rejeitada será fugir, por isso não é de se surpreender que crianças que se sintam rejeitadas inventem um mundo imaginário.
Nos casos de superproteção, além da faceta superficial mascarada de amor, a criança pensa que é rejeitada por não ser aceita como é. A mensagem que chega a ela é de que suas capacidades não são válidas e por isso ela precisa ser protegida.
Parte da nossa personalidade é formada a partir das feridas emocionais sofridas na infância. Por essa razão, a pessoa que sofre da ferida da rejeição se caracteriza por se desvalorizar e buscar a perfeição a todo custo. Esta situação vai levar a pessoa a uma busca constante de reconhecimento pelos outros, desejo que vai demorar a ser saciado.
De acordo com Lisa Bourbeau, a ferida é causada pelo progenitor do mesmo sexo e, diante disso, a busca de amor e reconhecimento será mais intensa, sendo muito sensível a qualquer comentário que proceda dele.
As palavras “nada”, “inexistente” ou “desaparecer” fazem parte de seu vocabulário habitual, confirmando a crença e a sensação de rejeição que está tão impregnada. Dessa maneira, é normal que a pessoa prefira a solidão, porque se ela receber muita atenção, existirão mais possibilidades de ser desprezada. Se tiver que compartilhar experiências com mais pessoas, tentará passar despercebida, sob a capa que constrói para si mesma, sem falar muito – isso se falar -, apenas para diminuir seu valor diante de si mesma.
Além disso, vive em uma ambivalência constante porque quando é escolhida, não acredita e rejeita a si mesma, chegando até mesmo a sabotar a situação; e quando não é escolhida, se sente rejeitada pelos demais. Com o passar do tempo, a pessoa que sofre desta ferida e que não a cura pode se tornar rancorosa e passar a sentir muito ódio, fruto do intenso sofrimento vivido por ela.
Quanto maior a profundidade da ferida, maior a probabilidade de ser rejeitada ou de rejeitar os demais.
A origem de qualquer ferida emocional provém da incapacidade de perdoar aquilo que os demais fizeram conosco, ou que nós mesmos fizemos.
Quanto mais profunda for a ferida da rejeição, maior será a rejeição de si mesmo ou dos demais, o que pode ser escondido através da vergonha. Além disso, haverá uma maior tendência à fuga, mas isso é apenas uma máscara para se proteger do sofrimento gerado pela ferida.
A ferida da rejeição pode ser curada prestando uma atenção especial à autoestima, começando a se valorizar e a reconhecer por si mesmo, sem precisar da aprovação dos demais. Para isso:
Embora não podemos apagar o sofrimento vivido no passado, sempre podemos aliviar nossas feridas e ajudá-las a cicatrizar para que sua dor desapareça ou, pelo menos, se alivie. Porque, de acordo com o que Nelson Mandela disse, de alguma forma somos capitães da nossa alma.
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TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA
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