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A respeito de psicopatas e companheiros de travessia

Na beira do rio, o elefante e o escorpião se encontraram. Ambos queriam atravessar para a outra margem, mas não havia ponte ou outro meio de fazê-lo. O elefante, por ser maior e mais pesado, concluiu que conseguiria chegar ao outro lado, apesar da correnteza. O escorpião, percebendo que só atravessaria o rio com ajuda, pediu ao elefante que o levasse consigo. O elefante recusou o pedido, argumentando que o escorpião tinha instinto de atacar e ferir, o que colocaria sua vida em risco. O escorpião retrucou que, se ferisse o elefante, morreria afogado. Ao ouvir isto, o elefante refletiu que fazia sentido, afinal, o escorpião não arriscaria a própria vida enquanto precisasse dele.

Acordo feito, eles iniciaram a jornada, com o escorpião encarapitado nas costas do elefante. No meio do rio, o elefante sentiu uma dolorosa picada. Já perdendo a consciência, pelo efeito do veneno, mas antes de afundar, perguntou ao escorpião por que ele fizera aquilo, apesar do acordo. E, mais que tudo, selando o próprio destino. O escorpião respondeu-lhe simplesmente que aquela era sua natureza.
Esta fábula tem versões diferentes, mas a moral é sempre a mesma: cuidado com quem promete o que não pode cumprir. Não acredite que as pessoas mudam de uma hora para outra nem negocie com predadores. Você sairá ferido, no final.

Pessoas elefantes e pessoas escorpiões são facilmente encontradas nos noticiários policiais, políticos, econômicos, sob manchetes que tratam desde pequenos delitos, golpes, furtos, agressões até crimes passionais, grandes desfalques, assassinatos em série, como praticantes e vítimas dos crimes. Pessoas elefantes são as que acreditam nas pessoas escorpiões, apesar dos avisos, antecedentes e, muitas vezes, histórico, e sempre lhes dão mais uma chance. Elas creem na mudança milagrosa, na redenção, no poder do amor e da compreensão, minimizando o perigo.

Não divido o mundo em bem e mal, não acredito em dicotomias nem que os indivíduos tenham apenas uma face, ao contrário, somos criaturas complexas. Projetamos nossas sombras o tempo todo, somos contraditórios, mudamos de ideia e de rumo. E somos, sim, capazes de atitudes condenáveis, dentro de nossa própria escala de valores. Isso significa que ninguém é perfeito, todos podem errar em algum momento, faz parte do aprendizado, da compreensão de que é preciso se aperfeiçoar como indivíduo. E o processo inicia-se na infância, não há quem nasça pronto, a vida é autoconhecimento e evolução.

Um elefante pode agir como escorpião, mas se arrependerá e sentirá culpa. O escorpião só se comportará como elefante se isto o beneficiar e, se suas verdadeiras intenções forem desmascaradas, seu arrependimento dificilmente será sincero. Ele ficará mais preocupado em não repetir os erros, em refinar as estratégias e ser bem-sucedido na próxima oportunidade. Em alguns casos, conseguindo ou não seu intento, o escorpião sacrifica a vítima, descartando-a por não lhe ser mais útil. No caso, a vítima é o elefante que se deixa convencer pela lógica do escorpião.

Para mim, a moral da história é: cuidado com seu companheiro de travessia. A pessoa escorpião dá mostras de seu caráter antes da picada fatal.

Maria Cristina Ramos Britto

Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental, trabalha com obesidade, compulsão alimentar e outras compulsões, depressão, transtornos de ansiedade e tudo o mais que provoca sofrimento psíquico. Acredita que a terapia tem por objetivo possibilitar que as pessoas sejam mais conscientes de si mesmas e felizes. Atende no Rio de Janeiro. CRP 05/34753. Contatos através do blog Saúde Mente e Corpo.

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Maria Cristina Ramos Britto

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