Em janeiro, fiz promessas. Fiz planos com amigos enquanto suava e tentava aliviar o calor da estação.
– Há de ser um ano bom para todos nós, dizíamos e brindávamos.
Janeiro é um mês fantástico para as relações humanas, todos carregando o frescor do ano novo, um sol que não nos deixa duvidar que estamos bem vivos, e aquela esperança de dias perfeitos que adoramos cultivar… Janeiro é a atriz hippie com tiara no cabelo.
Em fevereiro, negociei algumas promessas. Ainda verão, ainda o sol escaldante e a vida chegando morna, ainda meio de férias, demorando um pouco para entrar no ritmo. – O ano está só começando! Fevereiro é o sorveteiro sonolento.
Em março, esqueci as promessas e trabalhei muito, tanto que não tive tempo para voltar aos exercícios, mas as promessas já estavam enterradas em algum lugar. Trabalhei mais do que queria, ganhei menos do que esperava, mas março é um mês apático. Março é o gerente do banco.
Em abril, descolei uma viagem. Foi um alívio bom, uma parada estratégica, uma explosão de novas paisagens e maravilhas. Como é bom voltar ao trabalho depois de uma boa viagem! Tudo flui, nada aborrece. Quanta inspiração! Deveríamos viajar pelo menos três vezes por ano, todos nós. A vida precisa de outros cenários e culturas para se nutrir. E entre lembranças de viagem e planos para uma próxima, abril passou, e Maio o acompanhou, silenciosamente. Abril é o maquiador e Maio, a bilheteira do cinema.
Junho chegou. Meu aniversário chegou com junho. Mês feliz! Mês de muitos abraços. Junho é um mês simpático para mim. Desfruto cada dia de junho como uma fatia de bolo de chocolate. Junho geralmente me traz presenças muito mais interessantes do que presentes, mas presentes também são bem-vindos. Junho é a avó doceira.
E julho acaba com a minha festa, o abre alas do segundo semestre vem com tudo avisando que já o ano acaba e quem não fez nada até agora, tampouco conseguirá fazê-lo até o final. Julho é o inspetor do colégio.
Agosto vem sisudo, tanto que nem o clima se mete muito com ele. Era para estar frio, mas agosto reclama, então, deixa um verãozinho mesmo. Agosto mete medo em qualquer um. Conto os dias de agosto. Medo dos lutos, medo das perdas, medo do medo de agosto. Agosto é o vilão do filme.
Já consigo ver setembro, vindo mais leve, colorido, porque assim o espero.
E, de mês em mês, de dia em dia, vivemos sem perceber o quanto nos repetimos, o tanto que somos simples e infantis, rodopiando pelo calendário, pela vida, ano após ano, como éramos quando pequenos, entendendo os braços e pedindo: – De novo!
E setembro, o vendedor de algodão doce, já está chegando. De novo!
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