A terra dos nossos pais, quando não é a mesma que a nossa, tem valor e sabor especial para as nossas vidas. Mesmo que não saibamos ou não reconheçamos, ainda ou jamais.
A terra dos nossos pais, seja ela onde for, é o berço onde nasceram seus primeiros sonhos, é o cenário das primeiras impressões de suas vidas, é o lugar onde juntaram e trouxeram seus costumes, frases prontas, memórias e certezas, ilusões e esperanças.
Não participamos desse pedaço de vida, chegamos quando já estava desenhado. Quantas vezes nos pegamos dando risada e nos envergonhando deles, tão e simplesmente por se expressarem do jeito que aprenderam. Seus sotaques, particularidades, educação, paladar, sem contar a diferença de geração.
Acaba por ser uma mistura perigosa para quem começa a aprender a vida e percebe o choque que isso produz.
E o caminho inverso é da mesma forma. Se um deles saiu de sua terra para continuar a vida em outra, também se assustou e se intimidou, até se amuou com a nova realidade. Mas eles se esforçaram, engaiolaram seus medos, muitas vezes reprimiram seus sotaques e costumes, somente para garantir uma imaginada adequação.
Hoje, pela primeira vez depois de tantos anos, na terra que criou minha mãe, sinto uma ponta de vergonha pelas vezes que não considerei seu berço, pela insistência em imitar o seu sotaque, pelo valores que ela trouxe consigo e são meus valores também, afinal.
Hoje, na terra que criou minha mãe, me sinto filha também, prestando atenção nas pessoas, estudando seus trejeitos, tão interessada, quase invasiva.
Hoje, posso afirmar com certeza, que entendo um pouco mais tudo o que minha mãe foi e transmitiu para mim e para a vida.
Uma experiência emocionante, que me deixa de olhos e ouvidos curiosos, como uma criança que enfim reconhece a casa de onde veio.