Categories: COLABORADORES

A tirania do hábito e a liberdade para as borboletas

É difícil viver à revelia, sem algumas regras, horários, repetições? Sim, extremamente difícil. A gente se perde fácil, se desorganiza, se atropela, esquece prioridades e viaja nas “desnecessariedades”. Isso porque não há um norte, nada para guiar nem contestar nem nos frear.

Todo mundo precisa de um mínimo de orientação para o dia, para a casa, o trabalho, para a vida. E esse mínimo é particular, cada qual sabe do seu.

Pouco adianta levantar as bandeiras da liberdade integral e querer a todo custo se libertar de horários e convenções, porque definitivamente não funciona. E não funciona de cara, naquele momento em que você sai de casa e vai comprar o pão, mas a padaria está fechada porque o padeiro resolveu ter o mesmo direito que o seu, à liberdade de só fazer o que bem entender. Há regras a seguir, melhor que joguemos a favor delas.

Tenho uma amiga que vez por outra tira um dia e o chama de: liberdade para as borboletas. E ela nem telefone atende. É encantadora a maneira como ela cultiva esse dia, curtindo tudo o que quer fazer, passeando, comendo em lugares diferentes, conversando com as pessoas… ela realmente consegue a mágica de se desligar do hábito e entrar no mundo das borboletas. O problema é sair dele, mas isso já é outro assunto.

Já eu, sou escrava do hábito, assumida, chateada por nem poder contestar o título que carrego. Sou totalmente ligada em horários, não atraso nunca, faço o dia render ao máximo e descompenso quando algo me tira da rotina. Bom para mim? Não, bom para o meu trabalho, bom para quem me aguarda pois não os faço esperar, bom para a organização da casa em que vivo, bom para meus gatos que estão sempre bem atendidos, mas… é muito hábito para pouca vida, é muita produção para pouca diversão, muito resultado para pouca paixão.

O hábito é um tirano. Ele pega uma pessoa e a transforma em máquina. Maquina de fazer repetições. O hábito é um bruxo. Ele transforma as tarefas em desafios, o tempo em inimigo, as pausas em culpa, os anseios em frescura.

O hábito coloca a gente dentro da roda de um hamster e continua a dizer: – Faça tudo da mesma maneira, ou a roda parará e você não saberá mais como agir.

Por tempos eu acreditei nisso, mas agora, mais velha, vejo-me apegar um pouquinho mais pela teoria das “borboletas” de minha amiga. Neste momento, estou tentando fazer um acordo com o tirano. Cumpro o necessário e ele me libera para curtir o inesperado!

Emilia Freire

Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.

Share
Published by
Emilia Freire

Recent Posts

15 filmes fantásticos baseados em histórias que são reais

Filmes baseados em fatos reais são bons por, pelo menos, dois motivos. Em primeiro lugar, fazem com…

7 horas ago

Adolescência: Delegada revela códigos ocultos nos emojis usados na minissérie

“Os emojis são usados por grupos reais de jovens , muitas vezes como códigos velados…

19 horas ago

Mais uma ótima série de época na Netflix para quem sente falta de Bridgerton

Esta série disponível na Netflix tem sido comparada a outras produções de época, como "Bridgerton",…

20 horas ago

Luana Piovani expõe estratégia para não falir após multas por citar Pedro Scooby

A atriz abriu o jogo sobre as dificuldades que enfrentou durante o período em que…

1 dia ago

Novo filme romântico da Netflix é caloroso como um abraço e profundamente emocionante

Um filme que vai te conquistar logo nos primeiros minutos e te conduzir a uma…

2 dias ago

Mani Reggo, ex de Davi Brito, impressiona ao surgir de biquíni após abdominoplastia e 16 quilos a menos

Mani Reggo, de 42 anos, compartilhou, nesta terça-feira (25), um álbum de fotos na praia…

3 dias ago