A tristeza precisa voltar a ocupar o lugar de emoção normal

A confusão entre tristeza e depressão tem se repetido com frequência, é comum ouvir num grupo de amigos comentários do tipo: Fulana anda deprimida depois que terminou o namoro (na verdade, é normal se ela estiver triste, mas, se desenvolver depressão, é preciso procurar causas além do rompimento); Sicrano anda abatido e está mal na faculdade (o que está acontecendo em sua vida, problemas financeiros, amorososo, familiares?); Beltrano não conversa com ninguém e anda pelos cantos no trabalho (é preciso pesquisar o que levou a essa mudança de comportamento). Obstáculos, planos adiados, reveses, decepções amorosas têm derrubado muita gente que acaba confundindo sofrimento normal com transtorno. Para uma dor virar depressão, muita coisa tem que acontecer, e não é algo que seja automático ou inevitável.

A tristeza perdeu seu status de emoção natural, e confundi-la com depressão causa mais problemas do que se imagina, de uma sensação de impotência, por se acreditar doente, a uma tentativa de medicar um estado que nenhum remédio cura. Tristeza precisa voltar a ocupar o lugar de emoção normal, que resulta de uma fase de sofrimento e angústia, condição transitória e resposta normal a eventos como luto, perda de entes queridos ou do emprego, separação ou outras experiências estressantes. Trata-se de uma reação natural que se tornou complicada de vivenciar pela dificuldade cada vez maior de as pessoas encararem suas limitações e frustrações. Sentir tristeza dá vontade de chorar, se empanturrar de chocolate vendo seriados de tevê e ficar olhando fotos daqueles momentos felizes, que se acreditavam eternos, até a pessoa se cansar de sentir pena de si mesma. Ou a tristeza se esgotar por si mesma, diminuindo até desaparecer, cumprindo seu ciclo, e a pessoa começa a reagir à situação.

A depressão é muito mais complicada e não passa quando o sofrimento chega a um ponto de esgotamento, ao contrário, parece se alimentar das próprias emoções negativas. Ela provoca apatia e falta de motivação, incapacidade de experimentar prazer, falta de confiança, sensação de perda, vazio e inadequação, culpa, desesperança, problemas de relacionamento, pensamentos negativos, cansaço constante, excesso ou falta de sono e de apetite, irritabilidade.

Se tristeza é coisa que dá e passa, depressão é assunto sério, que pode levar o indivíduo a desacreditar de si mesmo, do que o rodeia e do futuro, fazendo-o perder o interesse pela vida e afastando-o do convívio social, com rompimento dos vínculos afetivos. É uma doença que causa grave comprometimento na qualidade de vida do indivíduo, além do risco aumentado de estar relacionada à ansiedade. Ao esperar sempre o pior, a pessoa cai num poço sem fundo de desânimo, não percebe soluções e, ao sucumbir ao desespero, buscando alívio para a dor emocional, pode adotar comportamentos desadaptativos, como compulsão alimentar ou abuso de álcool e drogas, compulsão por compras ou jogo, entre outros. Assim como a alegria tem fama de ser contagiante, afinal, quem consegue ficar emburrado diante de alguém com sorriso escancarado?, da tristeza todo mundo foge, como se fosse um vírus mortal, a vilã das emoções negativas.

Então, ao primeiro sinal de abatimento e desânimo, consulte seus sentimentos e situação de vida. Se for tristeza, vai passar. Mas, se isso não acontecer, indica-se pesquisar a possibilidade de um quadro depressivo estar se instalando. E depressão necessita de tratamento.

Imagem de capa: ESB Professional/shutterstock

Maria Cristina Ramos Britto

Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental, trabalha com obesidade, compulsão alimentar e outras compulsões, depressão, transtornos de ansiedade e tudo o mais que provoca sofrimento psíquico. Acredita que a terapia tem por objetivo possibilitar que as pessoas sejam mais conscientes de si mesmas e felizes. Atende no Rio de Janeiro. CRP 05/34753. Contatos através do blog Saúde Mente e Corpo.

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