Por Gabriela Gasparin
Quando encontrei o haitiano Jean Fritznel Pétcion, de 40 anos, na calçada da Avenida Paulista, ele havia se mudado para São Paulo há dois anos para estudar e trabalhar, após seu país ser devastado pelo terremoto em 2010 que deixou mais de 200 mil mortos. O motivo era óbvio: ele me disse que as condições no Haiti seguiam muito difíceis, mesmo após a ajuda financeira de vários países.
Eu o abordei sem saber de sua história, ao sair para comprar um livro. Jean também tinha ido à livraria e saía do local quando resolvi abordá-lo aleatoriamente para perguntar o sentido da vida, como costumo fazer às vezes.
Quando Jean me disse que era haitiano, eu logo lembrei do terremoto que destruiu aquele país. Ele contou que, por sorte, não perdeu nenhum familiar ou amigo na tragédia. Recordou que trabalhava em seu cibercafé na hora do incidente e saiu correndo. Sua esposa estava na escola que dava aulas, mas também não foi ferida. Ele revelou, contudo, que o cibercafé ficou completamente destruído.
“A vida está muito difícil lá, mas não falta dinheiro. Depois do terremoto, o país recebeu bastante dinheiro da mão de muitos países como o Canadá, Estados Unidos, da França, do Brasil também. Só que o Haiti tem um problema de governo, as pessoas só querem saber de entrar dinheiro, tem gente que ganha muito dinheiro no Haiti e tem gente que ganha muito pouco”, explicou.
Sua esposa e sua filha de 10 anos ainda vivem lá. Os planos dele é trazê-las para o Brasil, mas não pretende viver para sempre em solo brasileiro. “Estou num programa de residência para entrar no Canadá com minha família. O Brasil é bom, mas o Canadá é melhor que o Brasil.” Na opinião dele, apesar de o Brasil estar entre as maiores economias do mundo, as condições de vida e de trabalho são melhores no Canadá. Jean me disse que sente muita falta da esposa e da filha e não vê a hora de viver com elas novamente.
Em São Paulo, ele estuda Tecnologia em Redes e dá aulas de inglês e francês. “O governo do Brasil me deu visto permanente para eu vir aqui. Quando eu cheguei, o governo me deu uma bolsa para fazer Tecnologia em Redes, eu fiz Ciências da Computação no Haiti por quatro anos.”
‘A vida não tem sentido’
Quando perguntei a ele o sentido da vida, recebi uma resposta rara: ele disse que pensa muito sobre isso e até agora não chegou a conclusão alguma:
“Muitas vezes eu me pego pensando, ‘por que estou aqui no mundo?’ Eu nasci, depois de um tempo eu vou morrer, então a vida para mim não tem sentido. Eu é que pergunto a você, por que eu vim no mundo? É muito complicado!”
E continuou: “para mim, a vida não tem sentido. Por que todo mundo vem ao mundo e depois de um tempo todo mundo vai embora?”, afirmou. “Estou aqui e depois de 20 anos, 25, 30, 40 anos, eu posso não existir mais.”
Por conta desses pensamentos, disse que tem buscado melhorar suas condições de vida. “Tem gente que não pensa nisso. Estou pensando para melhorar a minha vida, com Jesus Cristo, com as pessoas, porque estou aqui hoje e depois de 40 anos eu não tenho certeza se vou estar.”
Vidaria é um projeto parceiro Conti outra.
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