Quando um jovem cantor sertanejo perdeu a vida em um acidente de carro, levou muitos de nós a refletir sobre nossos atos – inclusive o de não usar cinto de segurança quando somos passageiros no banco de trás. Eu mesma já fui negligente muitas vezes.
A tragédia dos dois jovens, mortos tão prematuramente nos leva a algumas reflexões sobre a vida, sobre a nossa existência e sobre os riscos que corremos por vontade própria. É claro que não podemos viver e nem colocar nossos filhos dentro de uma redoma, mas é preciso cuidar-se e cuidar para que a vida – sendo uma aventura tão prazerosa – não seja interrompida por comportamentos imprudentes ou negligentes. Já falei sobre isso quando um rapaz decidiu beber numa maratona e acabou morrendo. O quanto colocamos a nossa vida em risco?
Não temos controle sobre tudo, todavia, o que pode ser evitado? Qual a linha que separa as incertezas da vida da nossa responsabilidade pelos nossos atos?
Um dos maiores abismos com o qual nos deparamos quando estamos vivos é a constatação total das incertezas. Alguns teóricos na área da psicologia dizem que tomar consciência da incerteza e da ausência de controle é um dos maiores sofrimentos do ser humano. Muitas vezes essa constatação vem pela morte trágica de alguém próximo ou pela nossa quase morte. Eu faço parte do grupo de pessoas não morreu por muito pouco e posso afirmar que essa experiência causa mudanças muito profundas na forma de ver e se relacionar com o mundo.
A nossa existência carrega como certo apenas o fato de que será finito. Morreremos. Acreditando ou não em “vida após a morte”, a verdade é que, aqui neste contexto de realidade perceptível, o que sabemos é que vai acabar um dia. O que temos até o dia do fim não sabemos. Não sabemos tampouco quando o fim vai chegar. Isso nos leva a duas grandes reflexões e posturas inversas:
-a vontade de viver tudo a todo custo e aproveitar o máximo sem compromisso algum porque vai acabar mesmo (muito comum entre os jovens);
-a vontade de se proteger porque o mundo não é seguro e a nossa vida é valiosa e por isso queremos vivê-la até o fim (mais comuns em pessoas mais maduras).
São extremos opostos e ambos funcionam como mecanismo de defesa para tentar não enxergar que viver é fazer nossa parte e mesmo assim saber que não vamos controlar tudo. O descompromisso total com o cuidar-se e o excesso de zelo são padrões não saudáveis de comportamento. O primeiro porque põe em risco a nossa vida e o segundo porque nos impede de viver. De um lado os fóbicos, e do outro os irresponsáveis. O caminho é procurar um equilíbrio no espaço entre estes dois extremos e perceber quando se pode e quando não se pode controlar as variáveis. É muito provável que a morte do jovem casal pudesse ter sido evitada se eles estivessem usando o cinto de segurança. Das nossas atitudes dependem muitas das consequências que virão. Da nossa fé em viver e em correr riscos, dependem as alegrias que experienciaremos.
Viver não tem receita e quando uma tragédia se torna pública ela nos leva a refletir porque ilustra a nossa vulnerabilidade e os resultados das nossas imprudências. Busquemos então um caminho entre se esquivar e se arriscar. Sejamos prudentes e corajosos. Nem fóbicos, nem irresponsáveis. Vamos usar a observação como fonte de aprendizagem e de estímulo para a mudança de hábitos. Não deixemos que eventos como esses sejam amanhã esquecidos e que seja então preciso que mais alguém voe para fora do carro para nos lembrar de que é preciso sim, usar cinto de segurança. Amanhã podemos nós ser o exemplo que “acorda” o outro, porém, não estaremos mais aqui para mudar.
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