A vida sempre nos abre portas, mas teimamos em não entrar

Perdemos a oportunidade de aprender, de ampliar nossa visão de mundo, de repensar nosso modo de vida, nossas crenças e valores, pois não queremos abrir mão do que já está arraigado dentro de nós. Infelizmente, muitas das certezas que tomamos como certas são frágeis e não se sustentam frente ao movimento célere do mundo. Corremos, pois, o risco de ficarmos parados no tempo e no espaço, presos a mentiras ilusórias e paralisantes.

Perdemos a oportunidade de ensinar, de dividir conhecimento e experiências de vida, de ampliar o leque do raio de nossas ações entre as pessoas que nos rodeiam, pelo simples fato de que tememos que o outro use esse saber melhor do que nós mesmos. Ou seja, quanto menor nos enxergarmos enquanto alguém capaz de utilizar o potencial que possui, menos estaremos dispostos a transmitir o que sabemos, tornando esse conhecimento escondido cada vez mais inútil.

Perdemos a oportunidade de fazer novas amizades, de nos lançarmos aos encontros especiais que a vida nos reserva, receando abrir os nossos corações e ter que ver tudo aquilo sendo usado contra nós. Desconfiamos, então, de tudo e de todos, fechando-nos para o novo, para o desnudar-se frente a alguém, para novas trocas de verdades, porque o outro, para nós, será sempre o inimigo em potencial, um concorrente no emprego, na vida, enfim. E assim perdemos a chance de trocar sorrisos sinceros e carinhos honestos com gente do bem.

Perdemos a oportunidade de amar pela primeira vez, de reencontrar o amor, de amar de novo, de se amar, porque, na verdade, não estamos totalmente certos de nosso real valor, tampouco estamos dispostos a doar o tanto que queremos que nos doem. Egoístas que muitas vezes somos, queremos receber em profusão, ao passo que nos negamos a abrir mão de um mínimo de nós em favor da manutenção de um relacionamento. Difícil, quase impossível, nesse sentido, enxergar as necessidades e os desejos do outro, uma vez que a necessidade primeira é cada uma de nossas necessidades e ponto.

Perdemos a oportunidade de recomeçar, de tentar de novo, de lutar pelo que ainda não se foi de todo, de insistir em manter por perto o que nos é tão essencial, porque adotamos uma postura negativista e derrotista quando muitas vezes ainda há esperança. Isso porque não somos capazes de enxergar nossas reais possibilidades de ir em frente, ou seja, nós mesmos desacreditamos do tanto que ainda temos dentro de nós, contentando-nos com muito menos do que somos e podemos ser e ter.

Sim, existirão momentos em que teremos que ser obrigados a deixar ir embora pessoas e coisas, a fim de que possamos respirar com tranquilidade e desafogar o peso de nossas angústias. Haverá situações que nos obrigarão a nos fecharmos em nós mesmos por um tempo, até nos reencontrarmos. No entanto, quando tudo parecer perdido, caso mantenhamos ao menos um fio de esperança e de serenidade dentro de nós, poderemos perceber mãos generosas estendendo-se em nossa direção, prontas para nos ajudar a buscar novamente a felicidade, como tem de ser.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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