Ahh… como é fácil apontar nos outros os defeitos que também são nossos.

Dia desses inventei de dizer por aí que conheço quem se orgulha de ter visto o mundo inteiro mas nunca olhou na cara de seu vizinho. Pronto. Os gênios afeitos a paus e pedras saíram em defesa de seu direito à antipatia pura e simples.

Basicamente, suprimidos aqui os palavrões e as ofensas a mim e ao site que publicou o texto, os argumentos brilhantes diziam o seguinte:

“Prefiro mesmo conhecer o mundo do que olhar na cara do meu vizinho! E daí?”

Daí que eu acho feio ter orgulho da falta de empatia que nos assola e piora a vida cada vez mais, feito um rolo compressor movido a burrice e ignorância que vai macetando tudo que há, incluindo velhinhas, crianças, bichos, plantas e tudo quanto tenha um único problema: estar no caminho de quem acha mesmo ter a única opinião que merece crédito no mundo.

Uma senhora muito certa do quanto é especial me disse alguma coisa assim: “vizinho é um castigo. Se eu pudesse escolher eu escolheria não ter nenhum.”

Pois é. Mas a tal senhora só esqueceu um detalhe óbvio: ela também é “o vizinho”. Ela, eu, você e todo mundo somos a vizinhança de alguém. Logo, alguém por aí também deve lamentar a nossa existência por um motivo que, em geral, desconhecemos ou fingimos não existir.

Verdade é que as mesmas queixas que temos dos outros quase sempre se aplicam a nós mesmos. Mas a nossa incapacidade de se colocar no lugar do outro é tão grande que preferimos acreditar na fantasia de que somos os únicos habitantes do prédio, do bairro, da cidade, do planeta. Os únicos corretos, bem intencionadas, sensatos e merecedores de respeito que resistem na face da Terra. E o resto podia simplesmente desaparecer.

Em tempos tão carentes de empatia, tão precisados de gente que se empenhe e se coloque no lugar do outro, que acredite na gentileza e trabalhe para amenizar a grosseria que nos transforma em javalis, uma multidão se orgulha de ser justamente o contrário: antipática, individualista e burra, descaradamente estúpida.

Assim, implacáveis em suas grosserias, apontam, julgam e condenam nos outros os defeitos que também são seus, enquanto apertam o passo em sua barulhenta caminhada para trás, arrastando em marcha a ré quem estiver na frente. Cuidado com eles.

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

Recent Posts

Empresa libera acesso gratuito à internet via satélite; saiba como utilizar

A Starlink disponibilizará gratuitamente conexão de internet para regiões sem cobertura de operadoras convencionais.

19 horas ago

Filme transformador na Netflix baseado em caso real impressionante vai renovar sua fé na humanidade

O filme, descrito pelo público como impactente e transformador, chegou à Netflix fazendo muito sucesso…

21 horas ago

15 filmes fantásticos baseados em histórias que são reais

Filmes baseados em fatos reais são bons por, pelo menos, dois motivos. Em primeiro lugar, fazem com…

3 dias ago

Adolescência: Delegada revela códigos ocultos nos emojis usados na minissérie

“Os emojis são usados por grupos reais de jovens , muitas vezes como códigos velados…

3 dias ago

Mais uma ótima série de época na Netflix para quem sente falta de Bridgerton

Esta série disponível na Netflix tem sido comparada a outras produções de época, como "Bridgerton",…

3 dias ago

Luana Piovani expõe estratégia para não falir após multas por citar Pedro Scooby

A atriz abriu o jogo sobre as dificuldades que enfrentou durante o período em que…

4 dias ago