Ajudar outra pessoa é sem dúvida algo muito bom, mas, como em tudo na vida, aqui também há dois lados. Ajudar também é perigoso, podendo prejudicar tanto quem ajuda como quem é ajudado. Por isso, é necessário ter cuidado para ajudar corretamente, evitando tal prejuízo.
Quem já viajou de avião conhece esta cena: alguém da tripulação em pé, no meio do corredor, antes do avião decolar, gesticulando e demonstrando ao vivo as regras de segurança, explicando como se comportar em caso de acidente, onde se encontram as saídas de emergência, etc. A cena é tão corriqueira que fica fácil reconhecer quem está voando pela primeira vez, já que esses são normalmente os únicos que prestam atenção nas pantomimas da tripulação da aeronave. Mas seria importante prestar atenção, sempre de novo, já que as regras apresentadas podem salvar vidas. E uma dessas regras vai até além disso, valendo, na verdade, como uma regra para a vida: quando é demonstrada a queda das máscaras de oxigênio do teto em caso de perda de pressão no avião, sempre se repete que “se deve colocar primeiro a própria máscara antes de ajudar alguém a colocar a sua”. Sim, isso não vale somente para a máscara de oxigênio no avião, mas em toda e qualquer situação, sempre que você queira ou tenha que ajudar alguém. E aqui temos nossa primeira dica para quem quer ajudar corretamente:
É como querer salvar a vida de quem está se afogando: não pule na água e tente socorrer se você mesmo não sabe nadar bem o suficiente para sair novamente da água, pois, ao invés de ajudar a evitar uma vítima de afogamento, você contribuirá para que haja duas, o que não faria sentido.
É claro que ajudar é um gesto nobre e a solidariedade com o próximo é uma grande virtude, e é claro que uma ajuda é muitas vezes ligada a um certo sacrifício, mas esse sacrifício jamais pode ser tão grande ao ponto de prejudicar seriamente quem está ajudando. Ajude o outro, mas respeite a si mesmo, respeite seus próprios limites e nunca permita que a ajuda prestada prejudique sua existência. Por exemplo: se você tem um único pão e encontra alguém com fome, você pode sim fazer um sacrifício, partir o pão no meio e dar a metade para a pessoa faminta. Chamamos isso de partilha, de solidariedade. Mas não faria qualquer sentido dar todo o pão para pessoa e você mesmo passar fome mais tarde. Basta se recordar do que disse Jesus Cristo: que devemos amar o próximo como a nós mesmos. Sim, como nós mesmos. Mas nunca mais que a nós mesmos!
Isso vale especialmente para aquelas ajudas que temos que prestar sem ter escolha, como cuidar de um parente que se encontra enfermo, por exemplo. É claro que aqui a ajuda é extremamente importante, muitas vezes 24 horas por dia e não se pode simplesmente dizer “vou cuidar de mim agora!”, mas ainda assim: tente encontrar outras pessoas que lhe auxiliem, tente ter tempo livre para você mesmo de vez em quando, para sair de perto da situação, para descansar, para recarregar as baterias, para repor as forças, pois, caso contrário, você poderá terminar cuidando de um enfermo e ficar doente no final.
Então, tanto faz quem precisa de sua ajuda: cuide primeiro de você mesmo. Se você, por exemplo, se sente cansado(a), exausto(a), literalmente estafado(a) e seus filhos (ou quem quer que seja!) precisam de você, tente descansar primeiro, mesmo porque sua ajuda será muito mais eficaz depois do descanso.
Recordo-me de uma situação de quando ainda era jovem. Eu estava sentado em uma praça, numa pequena cidade do interior, e li no banco uma placa que dizia: “Este banco foi doado com grande generosidade por FULANA DE TAL”. Informei-me, querendo saber quem era a “fulana de tal” tão generosa. Fiquei sabendo que se tratava de uma mulher riquíssima, viúva de um dos maiores fazendeiros da região, dona de milhares de cabeças de gado e (!) muito religiosa. Em sua religiosidade, ela tentava ajudar aqui e acolá, mandou reformar a igreja, colocou bancos na praça e até mandou construir uma quadra de esportes para os mais jovens. Até aqui tudo bem. O problema é que ela fazia questão de rotular sua ajuda sempre, com placas que a indicavam como pessoa generosa. Então, com o passar do tempo, lia-se o nome da mulher por toda cidade e lia-se também sobre o tamanho de sua generosidade. Ela frisava tanto que era generosa que isso deixou claro o que realmente se escondia por trás de sua ajuda: uma enorme vaidade!
Mesmo que não percebamos, muitas vezes ajudamos por pura vaidade, por acreditarmos que solidariedade é uma virtude e por nos acharmos pessoas dignas de receber o reconhecimento alheio pelo que fizemos. Não é que seja errado sentir orgulho dos próprios atos e querer mostrar ao mundo o quanto se é uma pessoa boa, mas aqui seria necessário ser sincero consigo mesmo: quem ajuda e cobra reconhecimento para alimentar sua vaidade não faz o que faz para o outro, mas sim para si mesmo. E isso nada tem a ver com compaixão e generosidade.
Ajudar alguém esperando receber algo por isso não é realmente uma ajuda. É uma troca, é um negócio, no qual eu faço algo e espero uma remuneração. Quem realmente quer simplesmente ajudar, ajuda. Ele faz o que deve ser feito, dá algo ao outro e não espera nenhum retorno, no máximo, o retorno garantido pela vida, que devolve tudo um dia, seja bom ou ruim, mas nunca qualquer forma de “pagamento” por parte da pessoa ajudada.
Vem-me à cabeça uma propaganda na televisão. Uma mulher idosa parada no meio-fio, em uma rua extremamente movimentada. Um homem vem, a segura pelo braço e a ajuda a atravessar a rua. Só que a mulher não queria atravessar a rua, ela esperava pelo ônibus. No final, o homem vai embora todo feliz por ter ajudado alguém e a mulher fica lá totalmente irritada, pois nesse meio tempo, o ônibus chegou e partiu sem ela.
Esse exemplo mostra bem um grande problema que podemos enfrentar quando tentamos ajudar alguém: sem querer, impomos nossa ajuda sem nem perguntar se o outro realmente a quer. E terminamos nos intrometendo em sua vida, tentando até convencê-lo de que ele precisa de algo (=ajuda) de qualquer jeito e forçando-o a aceitar um apoio que ele não quer e nem solicitou.
Então, antes de ajudar alguém, confira primeiro se ele quer realmente sua ajuda. Ao invés de “segurar a senhora pelo braço e atravessar a rua com ela”, pergunte primeiro se é isso que ela quer.
Na semana passada, apareceu uma conhecida em minha casa, querendo falar comigo com urgência. Ela precisava de ajuda financeira, pois tinha dívidas a pagar e o saldo no banco estava baixo. Não era uma quantia irrisória, mas, mesmo assim, pensei em ajudar, pois se tratava de alguém de quem gosto muito. Mas pedi um tempo para pensar. Ainda no mesmo dia, vi que a mulher postou no Facebook fotos de sua última viagem (há somente uma semana atrás!), fazendo questão de mostrar o luxo do hotel onde havia ficado hospedada. Fiquei meio pasmo e dei uma olhada mais minuciosa em seu perfil e vi que a mulher só se preocupava em gastar dinheiro, com viagens, com roupas, com futilidades. Por um lado, não é de minha conta como ela vive ou deixa de viver. Ela é livre para isso. Mas também sou livre para constatar que seu problema não era falta de dinheiro, mas sim uma definição errada de suas prioridades. Percebi que essa pessoaqueria ajuda, mas realmente não precisava. A ajuda que ela precisava não era dinheiro, mas sim aprender urgentemente a lidar com o dinheiro que tinha, estabelecendo as prioridades corretamente. Mas essa não era a ajuda ela queria.
Então, antes de fazer algum sacrifício para ajudar alguém, certifique-se de que essa pessoa realmente precisa dessa ajuda. Caso não, guarde sua energia, seu tempo e mesmo dinheiro para ajudar alguém que realmente precise.
Existem, em minha opinião, dois tipos de ajuda: a ajuda caritativa e a ajuda para autoajuda.
A ajuda caritativa deveria ser uma ajuda incondicional. É aquele tipo de ajuda que praticamos na rua, quando alguém nos pede, por exemplo, dinheiro para comer. Ou é aquela ajuda que damos a refugiados de guerra ou de catástrofes, aqueles alimentos que doamos, aquelas roupas que cedemos a quem se encontra em situação de desespero e de luta pela sobrevivência. Aqui não deveríamos impor quaisquer condições. É bobagem dar um dinheiro a um homem que pede no metrô, mas querer impor a ele que compre comida com o dinheiro, ao invés de usá-lo para beber ou fumar. É bobagem porque você jamais poderá controlar isso. E é bobagem porque não é realmente importante saber. Aqui faz mais sentido não dar nada ou dar e esquecer imediatamente que deu.
Já a ajuda para autoajuda só funciona se for ligada a certas condições. Do que adiantaria, por exemplo, pagar uma escola para alguém finalmente aprender uma profissão se esse alguém nunca for para a aula? Aqui é claro: a ajuda tem que ser condicionada pela assiduidade do aluno na escola e talvez também por boas notas. Lembro-me de uma parenta, que estava desempregada e queria montar um negócio próprio. Ela me pediu ajuda para isso. Ajudei-a a montar uma pequena lanchonete e prontifiquei-me a apoiá-la financeiramente no início, até que o negócio caminhasse por conta própria. Claro que impus a ela condições para minha ajuda, sendo a principal o seu esforço para fazer o negócio vingar. A coisa correu bem por duas semanas. Depois ela começou a trabalhar menos, abrindo a lanchonete somente algumas horas por dia, normalmente no final da tarde, alegando que estava tendo muito pouco tempo livre, para lazer. Ela preferia fazer mil outras coisas (assistir televisão, passear, bater papo com vizinhos…) a trabalhar na própria lanchonete. Depois de adverti-la algumas vezes, sem que ela me levasse a sério, cortei toda e qualquer ajuda. A lanchonete não vingou e a mulher vive hoje do mesmo jeito que vivia antes.
Se eu tivesse prosseguido com minha ajuda financeira, eu não a teria realmente ajudado. A intenção foi a de proporcioná-la uma forma de manter a própria vida, sem depender de outras pessoas. Foi essa a proposta e ela concordou com as condições que impus no início. No momento em que bateu preguiça e comodismo na mulher, a proposta inicial perdeu a validade e com isso também perdi a disposição de ajudar, já que prosseguir dando dinheiro só serviria para uma coisa: para criar dependência.
Portanto, verifique que tipo de ajuda você está prestando. Se for uma ajuda caritativa, ajude e pronto, sem condições e sem apurar nada. Mas se for uma ajuda para autoajuda, controle sempre de novo se o objetivo da ajuda realmente está sendo atingido.
Este ponto parece uma contradição ao ponto “3. Ao ajudar, não espere nada em troca!”, mas não é. Realmente não devemos esperar nada em troca quando ajudamos, mas devemos ter consciência de que solidariedade só funciona quando há um equilíbrio. Isso não significa que quem dá deve esperar um retorno, mas é necessário que haja um retorno quando se dá, mesmo que não seja no mesmo momento, mesmo que não seja da mesma pessoa. A falta de equilíbrio ocorre quando alguém só quer receber dos outros sem nunca querer dar nada, mas também quando alguém dá sem ser crítico e sem vigiar essa falta de equilíbrio. Sim, você deve dar sem esperar nada em troca, mas você deveria questionar sua ajuda quando perceber que a pessoa que a recebe nunca se mostra disposta a dar também algo de si, seja lá a quem for. Ajudar pessoas assim constantemente é contribuir para o desequilíbrio entre o dar e o receber, e esse desequilíbrio não faz bem a ninguém, já que reforça a ideia da solidariedade como via de mão única, prejudicando a sociedade como um todo.
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