O ataque a tiros na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, chocou todo o Brasil e levantou diversas discussões. Entre elas, foi muito abordado sobre a influência dos jogos violentos no comportamento de crianças, adolescentes e jovens.
Para debater o tema, a equipe de reportagem do Jornal Tribuna de Jundiaí conversou com as psicólogas da cidade Bruna Prestes Duran e Renata Zezza. Para ambas, falar sobre a influência de jogos violentos é necessário, porém existe um tema mais profundo a ser trabalhado: a terceirização da educação.
“Existe um histórico por trás de cada indivíduo. Porém, nada justifica a violência. Fica difícil entrar em um estado de julgamento sem conhecer o contexto vivenciado por esses jovens”, explica Bruna. Ela salienta, também, que o nível de negligência infantil deve ser levado em conta, já que o histórico da educação ajuda a discernir comportamentos.
Para Bruna, existem fatores que devem ser considerados na hora de “julgar” ou justificar as ações de um indivíduo: se eles puderam desfrutar de um lar empático e acolhedor, se tiveram pessoas passivas em seu convívio diário e se foram ensinados a controlar as emoções.
A falha nesses complementos emocionais, somados a uma personalidade violenta, podem gerar uma série de comportamentos destrutivos e doentios.
“Jogos violentos e a influência da mídia somados com falta de afeto, violências psicológicas e verbais, sentimento de rejeição, negligência parental, podem desencadear diversos transtornos psicológicos que acarretam em tragédias como a que vimos”, afirma.
A psicóloga Renata Zezza trabalha diretamente com crianças e adolescentes e, ao Jornal Tribuna de Jundiaí, ela contou que a terceirização da educação dos filhos e a falta de participação dos pais pode se tornar um fator destrutivo.
“O excesso de jogo mostra, muitas vezes, falta de participação, principalmente dos pais. Às vezes, os próprios pais estão inseridos no mundo virtual e esquecem dos filhos”, explica.
Influência do videogame
Muitas crianças buscam nos jogos aquilo que elas não conseguem em sua relação social dentro ou fora de casa.
Para Renata, os jogos podem servir como válvula de escape em momentos de pressão ou dificuldades. “Às vezes a criança passa por uma situação de estresse, fica ansiosa, vai mal na escola, no caso de adolescentes, “tomam um fora”, e se ‘enfiam’ no jogo”, diz.
Sobre os jogos violentos de videogame, a psicóloga explica que para indivíduos com predisposição para agressividade, jogos de guerra e lutas podem se tornar um gatilho para aumentar aquilo que ele já sente. Nestes casos, é de suma importância que os pais estejam alertas.
“O comportamento dos filhos os pais devem conhecer. Se eles não conseguem perceber uma mudança no próprio filho, é sinal de que o relacionamento familiar está mais grave do que se imagina”, explica.
Comportamentos que servem de alerta
Renata explica que alguns comportamentos servem de sinais aos pais em relação ao envolvimento do filho com um jogo ou o mundo virtual:
“Quando a criança ou adolescente só fica trancada no quarto, troca o dia pela noite para jogar de madrugada, come dentro do quarto, não faz uma pausa e não quer sair daquele ambiente”, alerta a psicóloga.
Além disso, o tratamento com os parentes de primeiro grau também deve ser analisado. Mudanças na forma de tratar o pai, a mãe e os irmãos são indicadores de problemas.
Tratamentos como “cale a boca”, “você não manda em mim”, “saia do meu quarto” e outros, são sinais de agressividade.
Como os pais podem ajudar
“Os pais não podem desistir. Muitos se cansam de tentar e acabam optando pelo o que é mais fácil”, explica Renata que também desabafou sobre o fato de que muitos pais encorajam os filhos a fazerem terapia, mas não os acompanham no processo.
Para ela, é necessário que os pais mostrem a realidade da vida para os filhos, explicando que as coisas não são fáceis e mostrando a importância de valorizar a família, amigos, escola e como é valoroso ter uma vida real, além do mundo virtual.
“Precisamos de pais que queiram resgatar seus filhos. Somente eles podem fazer isso. Hoje, é muito fácil deixar o celular na mão da criança do que propor uma atividade para ela ou ter que levar um diálogo com um adolescente. Mas ações assim geram consequências no futuro”, desabafa.
A conclusão de ambas profissionais é que o fato ocorrido em Suzano mostra o quanto as crianças, adolescentes e jovens estão precisando de estrutura emocional e, principalmente, estrutura familiar.
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Fonte indicada: Jornal Tribuna de Jundiaí.