Marcel Camargo

Algumas pessoas chegam para nos mostrar que nunca havíamos amado antes

Imagem de capa: HTeam/shutterstock

Há pessoas que entram em nossas vidas para que aprendamos a discernir o amor do interesse, a amizade do descompromisso, a verdade do fingimento. Pessoas que enxergam o outro, que se lembram de regar os jardins alheios, pois não pensam somente em si mesmas.

Muitos de nós acabamos aceitando o mínimo, muito menos do que poderia – ou deveria – ser ofertado pelas pessoas ao nosso redor, mesmo quando sempre nos doamos por inteiro, intensamente, por completo. E tudo fica mais pesado aqui dentro, uma vez que somos obrigados a carregar o que deveria ser compartilhado, mas não é. É assim que acabamos nos conformando com o que poderia ser bem melhor, aceitando o que deveria ser mais abundante, desvalorizando o tanto que somos e podemos ser.

No entanto, daquelas surpresas mágicas com que a vida nos presenteia, de repente a gente se vê realmente junto, efetivamente próximo a alguém. Tem gente que aparece para ser amigo de fato, trazendo conforto e motivação na medida certa. E tem gente que nos ama com muito, doando-se com intensidade desmedida, sem senões, sem hesitar, trazendo amor além da cama, além do sol, dando as mãos também nas escuridões de nossos medos.

Quando isso acontece, entendemos finalmente que o que nos davam, até ali, era muito menos do que precisávamos, era muito diferente de amor verdadeiro. Há pessoas que entram em nossas vidas para que aprendamos a discernir o amor do interesse, a amizade do descompromisso, a verdade do fingimento. Pessoas que enxergam o outro, que se lembram de regar os jardins alheios, pois não pensam somente em si mesmas. Pessoas que nos mostram que nunca havíamos amado ou sido amados antes com verdade.

Amor não se reveste de pendências, de espaços vazios de esperas demoradas, de lágrimas sem fim. Amor não sobrevive de promessas, de unilateralidade, de um lado só. Amor não se alimenta de expectativas vãs, de palavras ao vento, de solidão acompanhada. E, quando nos damos conta disso, transformamos o tempo perdido em lição de vida, em um passado distante que não mais nos alcançará, porque então estaremos fortalecidos pela certeza do que e de quem realmente devem ser mantidos ao nosso lado.

Aquele lugar comum que nos aconselha a ficarmos sós, caso estejamos mal acompanhados, nunca cairá em desuso, pois, ultimamente, há muitos indivíduos que não conseguem abrir mão de nada, uma vez que poucos estão dispostos a olhar menos para o próprio umbigo, para poder receber alguém em suas vidas de maneira compartilhada e compromissada. Ou estamos certos do quanto merecemos, ou aceitaremos qualquer coisa em nossas vidas. Mas isso ninguém deveria merecer.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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