Marcel Camargo

Algumas pessoas deixam saudades, outras deixam um imenso alívio por terem ido embora.

Não há um dia em nossas vidas em que a saudade dê uma trégua. Nossa memória é recheada de tantas lembranças, que é inevitável as recordações nos tomarem alguns momentos, trazendo-nos lições que, muitas vezes, teimamos em não aprender, sendo uma delas a consciência de que algumas pessoas saem de nossas vidas para que nossa jornada fique mais leve e feliz.

Quando perdemos alguém, seja para a vida, seja para a morte, não raro somos tomados por uma tristeza dolorida, pela sensação de que nada mais será como antes, de que será difícil sorrirmos novamente com verdade, de que nada mais valerá tanto a pena. Não conseguimos aguardar a passagem do tempo e as respostas que nos serão dadas lá na frente, pois somos imediatistas e nos apegamos ao que já está conosco, mesmo quando aquilo que estiver seja forçado, seja falso, seja doído.

Tudo é tão imprevisível, que queremos manter por perto o pouco de constância que possuímos, esquecendo-nos, assim, de uma premissa básica: nada é eterno, nada é constante, nem nós mesmos o somos. Acidentes, incidentes, imprevistos acontecem e tudo pode mudar, de repente, sem nos preparar, sem suavidade alguma. Caminhos se abrem para todo mundo, diariamente, ou seja, algumas pessoas, inevitavelmente, seguirão seus passos por outras veredas que não as nossas.

Embora algumas pessoas nos deixem muitas saudades, outras sairão de nossas vidas como uma providência do universo em nosso favor, pois em nada contribuíam para nossa felicidade, muito pelo contrário. Mesmo que, no momento do distanciamento, soframos muito, o correr dos dias irá nos dar a exata noção do quanto foi necessária a separação que aconteceu. Chegaremos até a nos questionar como é que aguentávamos aquela pessoa perto de nós.

E, então, quando nos dermos conta de que nossa vida seguiu mais tranquila sem algumas pessoas que tanto queríamos junto, sentiremos uma satisfação enorme. É assim que nos tornamos mais gratos pelas pessoas especiais que caminham conosco, ou mesmo torcem de longe, e pelas pessoas que já partiram, mas continuam aconchegadas em nosso coração, pois temos a certeza de que jamais chegaríamos onde estamos sem a ajuda daqueles que fazem parte das lembranças mais lindas de nossas vidas.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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