Ana Macarini

Algumas pessoas são como livros: belas capas e nenhum conteúdo!

É impressionante o quanto ainda somos vulneráveis às aparências. Olhamos o frasco e pouco nos importamos com aquilo que ele contém.

O mundo é pautado naquilo que ostenta; belos sorrisos, corpos esculpidos, cabelos sedosos, peles impecáveis, rugas subtraídas em caríssimos procedimentos dermatológicos. Vemos o que nos é mostrado e perseguimos uma beleza externa como se ela fosse a garantia de uma vida mais feliz.

Quanto engano!

Muitas vezes, seduzidos por belíssimos invólucros, somos atraídos para gente que exala veneno internamente. Gente vazia que se vale de uma casca perfeita para enganar e atrair.

E como somos tolos o suficiente para nos deixar enganar, vamos nos afastando daquilo que deveria ser uma prioridade: o que nos vai por dentro.

Meninos e meninas seguem arrastados por ideais de beleza voláteis e instáveis. Muitos chegam a passar fome voluntariamente, em busca de um corpo de sílfide, em busca de caber nas expectativas de uma sociedade que dita regras tão estreitas que fazem inveja aos mais rígidos espartilhos do século XVII.

Historicamente somos vazios. Vivemos nos sentindo inadequados, porque o modelo de adequação é também vulnerável. Ficamos uma vida inteira perseguindo um arco-íris projetado no céu, sem nunca conseguir alcançá-lo.

Então… quando nos deparamos com a suposta atenção daquele que representa um modelo de adequação, um exemplo de cabimento aos mais exigentes padrões, somos entorpecidos pela sensação de termos sido recompensados com o prêmio máximo.

A exuberância do outro nos é emprestada. E, magicamente, passamos a caber na lógica do “lindamente correto”. É como ter uma permissão de transitar num mundo que persegue a perfeição do invólucro.

Inebriados esquecemos de ler as letras miudinhas do rótulo. Esquecemos de lembrar que por dentro de uma bela casca pode haver uma polpa passada e indigesta. Esquecemos que belos frascos podem conter venenos letais.

Quem sabe já não esteja passando da hora de dedicarmos um tiquinho de atenção ao que nos vai por dentro. Quem sabe não seja tempo de pararmos de correr atrás de imagens holográficas de uma beleza forjada. Quem sabe não esteja na hora de pararmos de folear o outro e de passarmos a lê-los a partir de um olhar menos fútil.

Há gente que parece certos livros: lindas capas e nenhum conteúdo. Mas também há aqueles cuja aparência simples e supostamente inadequada esconde verdadeiros tesouros. Garimpemos gente de verdade, porque de joias falsas o mundo está farto.

***

Imagem de capa: Fotolia

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

Recent Posts

Saiba o que é o “namoro solo”, a nova tendência da Geração Z

Uma nova tendência entre os jovens da Geração Z vem ganhando força e gerando polêmica:…

2 horas ago

Mãe expõe áudios de filha que foi abandonada pelo pai: “Nunca te fiz mal, pai”

Em mensagens de cortar o coração, a menina deixa evidente a falta que o pai…

8 horas ago

Mulher que teve experiência de quase morte detalha visão assustadora que teve ao ‘deixar seu corpo’

Cirurgia radical levou paciente ao estado de morte clínica, revelando relatos precisos de uma “vida…

9 horas ago

Agnaldo Rayol falece de forma trágica aos 86 anos e deixa legado na música brasileira

O cantor Agnaldo Rayol, uma das vozes mais emblemáticas da música brasileira, faleceu nesta segunda-feira,…

1 dia ago

Padre causa polêmica ao dizer que usar biquíni é “pecado mortal”

Uma recente declaração de um padre sobre o uso de biquínis gerou um acalorado debate…

1 dia ago

A triste história real por trás da série ‘Os Quatro da Candelária’

A minissérie brasileira que atingiu o primeiro lugar no TOP 10 da Netflix retrata um…

1 dia ago