Ouço com frequência amigos falarem quanto, ao final de um relacionamento, “batalharam” para salvar a relação. Pensei em quantas vezes me disse a mesma coisa e quanto é libertador entender que quando num relacionamento a gente atinge o ponto em que devemos “tentar de tudo” ou “lutar” para estar com alguém, significa que chegamos no começo do fim.
É falso afirmar que NUNCA devemos desistir de alguém que amamos. Nunca devemos desistir é de nós mesmos.
Quando entramos numa guerra interna para salvar um relacionamento, mergulhamos num paradoxo absurdo no qual passamos a oferecer um “amor” incansável que sequer somos capazes de dar a nós mesmos.
Não há luta, não há renúncias dolorosas, não há “fazer de tudo” quando se está diante da pessoa certa. A vida flui com a pessoa certa, aquela que olha com a gente na mesma direção e até discordar dela pode ser um momento de descontração.
Quando para estar com alguém nos sentimos cansados, esvaziados, testados, amedrontados, negociando a própria dignidade e acessando desesperadamente cada um de nossos recursos, como quem luta para manter vivo um filho com uma doença terminal, significa que esse alguém é qualquer coisa, menos a pessoa com quem envelheceremos de forma serena e feliz.
Como já disse em outra ocasião, amar não é garimpo, no qual se arrisca a vida no escuro, respira-se um ar saturado, suja-se ao ponto de ficar irreconhecível para, quem sabe, encontrar uma pedra preciosa que, depois de lapidada (e dá-lhe mais trabalho!), transformará sua vida para sempre. Garimpo é isso, amor não.
Amor é jardinagem nos fundos de sua casa. Ali, à luz do dia e respirando ao ar livre, você não põe sacrifício, você põe seu carinho, sua dedicação, seu tempo e seu conhecimento de que cada planta requer um cuidado específico porque nenhuma é igual. Ao invés de trabalho, você se depara com uma poderosa terapia que envolve adubar, irrigar, dar espaço para o crescimento de cada espécie e esperar o tempo certo de florir. E vai florir, trazendo a reconfortante sensação de cada uma traz sua própria beleza, sem, no entanto, requerer sua intervenção, seu cálculo, sua exaustão, seu sacrifício.