Um dia desses vi um post com milhares de curtidas numa página famosa que fala sobre o amor. Dizia assim:
“QUANDO É AMOR? AH, A GENTE TOLERA, PERDOA, MUDA, ESPERA E SUPORTA ATÉ O INSUPORTÁVEL, SÓ NÃO DESISTE!”
Fui imediatamente tomada por uma perplexidade tamanha que me fez balançar a cabeça e ler de novo. Inconformada, li os comentários de centenas de que pessoas realmente acreditam que esses comportamentos sejam sinais de amor.
O que dizer desse ideal romântico e irreal que nos é posto constantemente, desde pequenos? Confunde-se amor com dependência afetiva e cegueira emocional, pelo qual tudo se tolera, tudo se espera, tudo se perdoa e onde só é permitido desistir de si mesmo.
Perdoem-me os românticos de plantão, mas não, isso não é amor.
Amor se dá quando um não submete o outro ao insuportável exatamente porque o ama.
Amor se dá quando gasta-se mais tempo encontrando modos de preservar o outro de dor, do que criando constantes motivos para pedir “perdão”.
Amor se dá quando prefere-se deixar ir, a submeter o outro a dor.
Amor se dá quando duas pessoas se respeitam, se alegram mutuamente, se apoiam nos momentos de dor, sem DEPENDER uma da outra.
Amor cura. Dependência abre úlceras difíceis de fechar.
Amor não dói. Dependência dilacera e aterroriza.
Amor impulsiona, encoraja e diz: “Vai lá!”. Dependência amedronta e faz do mais forte, um covarde.
Amor liberta. Dependência incapacita, aprisiona.
Amor caminha lado a lado. Dependência viaja sobre as costas do outro, pois um é conjunto colunas que sustentam um todo, e o outro, pilar central que, derrubado, faz o mundo vir ao chão.
Amor se dá quando é possível respirar a plenos pulmões ao lado do outro, a estrada é ampla, o chão é firme. Dependência se dá quando respira-se um ar tão denso que seria possível cortá-lo com uma faca, a estrada é estreita e coberta de ovos.
Amor se dá quando você percebe que não é o destino sonhado ao qual o outro deseja chegar, mas está servindo apenas de pavimento sob seus pés e, diante disso, você bate em retirada, em nome do maior amor de todos: o amor próprio.
Imagem de capa: Bekir Dag/shutterstock