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“Amarração” é sadomasoquismo. Amor é coisa de gente livre.

“Faço amarração de amor”, diz o cartaz colado no poste. Você já deve ter visto coisa parecida por aí. Se já viu, também já deve ter se perguntado: que tipo de gente é capaz de requisitar esse serviço?

Em quem oferece tal especialidade eu prefiro nem pensar. Evita pesadelos. Melhor deixar isso com a polícia e os exorcistas. Agora, as pessoas que necessitam desse expediente me cutucam a curiosidade.

O que acontece a um sujeito para pedir a alguém que “amarre” a pessoa que ele diz amar? Por quais caminhos esburacados passou até chegar ao lugar sombrio onde está? Que substâncias ilícitas consumiu? O que, afinal, estraçalhou a sua dignidade, sua autoestima, sua inteligência e seu juízo para chegar a esse nível?

Sim, porque se o ser amado é escorregadio a ponto de ter de ser “amarrado” para não escapulir, é melhor deixá-lo ir de uma vez. Ele não serve para você! Aliás, ninguém pertence a ninguém para ser condenado à prisão domiciliar sem ter cometido um crime. Assim como ninguém é dono de ninguém, exceto os animais de estimação, para lhe enrolar uma corrente e mantê-lo sempre perto.

Quem ama uma pessoa de verdade só o faz porque quer. Logo, fica junto se quiser! Quando deseja alguém por perto, é porque ama e o amor o faz livre. Livre de tudo a ponto de recusar outras ofertas, outros caminhos, outras propostas da vida. Livre para se deixar estar ao lado de seu amor. Sem amarras, sem cordas, sem limites, quem ama se deixa estar junto. Livremente agarrado a quem o merece.

Essa conversa de “amarrar o amor” é nada senão perversidade, fixação, posse ilimitada. Caso de cadeia! Alguém de fato interessante e amoroso não precisa acorrentar o ser amado. Tem decência, bondade e amor próprio suficientes para saber quando acabou e seguir adiante.

“Amarrar” o outro não é amá-lo. É odiá-lo a ponto de cortar-lhe as asas, reforçar as grades da gaiola, controlar seus passos via localizador, queimar-lhe a pele como gado. Fazer de tudo para torná-lo invisível a outros olhos, intocável por outras mãos. Como se ele fosse um objeto correndo o risco de ser roubado por outro ser. Não alguém livre que só irá embora se quiser, quando bem entender.

Tem gente tão equivocada, tão temerosa de perder o que jamais lhe pertencerá, que chega ao cúmulo de desejar a morte do ser “amado”. Assim, tomado pela inacreditável lógica do “se não é meu, não será de mais ninguém”, tira-lhe a vida. Seja de forma simbólica, amarrando-o, seja literalmente, disparando uma arma contra ele.

Definitivamente, amar não é amarrar. É deixar o outro voar solto, livre, generoso. E é voar com ele se for o caso. Quem ama não aceita “amarração”. O amor é a mais pura, bela e santa libertação!

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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