Eu já participei ativamente na luta pela proteção animal, e na época eu ouvi algumas perguntas e afirmações como estas: “Tanta criança na rua e você alimentando cachorro!” “Por que as pessoas que cuidam de animais de rua são todas meio loucas?” “Eu acho falta do que fazer, você precisa arrumar um filho”! “Cuidar de bichos é coisa de gente carente”. Estas são as frases menos agressivas e acredito que somente quem vive ligado a uma ONG como eu já fui, ou quem é protetor independente saiba do que eu estou falando.
Já me questionei muitas vezes porque os ativistas sofrem tantas críticas. O que observei é que elas costumam vir sempre de pessoas incomodadas, mas de pouca preocupação com o que não seja si próprio, nunca são militantes de causa alguma e, apesar de criticarem a nossa atividade, nunca eram pessoas que ajudavam nem crianças, nem idosos, nem ninguém. Pareciam apenas incomodadas.
Nos dias de hoje, as ONGs de proteção animal têm uma representatividade cada vez maior na sociedade. As novas gerações já se conscientizaram que podem viver sem ingerir carne, e algumas não utilizam de nada que seja de origem animal. Eu acredito que seja o ser humano evoluindo, se compararmos os hábitos da nossa espécie na idade média, por exemplo.
Mas de onde vem esse amor? Sim, amor, e talvez por isso seja loucura. Amor e loucura caminham juntos (leiam o mito de Eros e Psiquê). Acredito que eu não tenha que me estender descrevendo a imensidão do meu amor pelos animais – quem já se permitiu amar e ser amado por um deles sabe do que eu falo, quem não se permitiu, ainda é tempo. A verdade é que esse amor pode nos trazer cura, paz, felicidade e não há nada mais gratuito do que a relação afetiva com um animal.
Além de já terem nos provado serem ótimos companheiros, os animais auxiliam na cura dentro dos hospitais, na reabilitação nos centros de equoterapia, e nos mostram que pode se amar livremente, sem cobrar quase nada em troca, a não ser o próprio amor. Mesmo seres humanos que ainda não aprenderam a amar, acabam se rendendo quando a relação é com um animal de estimação – que como o próprio nome diz, feito para se estimar. É como se disséssemos ao nosso cérebro: “dele eu posso gostar”. Não há dor na relação com o animal, a não ser a dor da perda, por isso muitos humanos a preferem, principalmente o que sofreram alguma decepção com a raça humana.
Para nós, psicólogos, a relação e o afeto aos animais só traz benefícios. De uma forma geral, as crianças que crescem com animais de estimação desenvolvem com mais competências as relações e a comunicação, tendo isso efeitos diretos na sua autoestima. Os animais tornam-se companheiros fiéis e confidentes, parceiros de jogo e brincadeiras e gostam quase “sem limites” dos seus donos. Com os seus animais de estimação, as crianças partilham alegrias e tristezas, medos, raivas e desgostos, bem como os seus próprios pensamentos. Além disso, só a própria textura dos animais (o pelo fofo que lhe faz lembrar aquele urso de pelúcia que tanto gostava) é muito calorosa.
Penso que tanto as pessoas como os animais podem ganhar muito a partir de uma convivência harmoniosa. Os estudos mais recentes têm demonstrado que existem vários benefícios dos animais de companhia no bem-estar geral, no desenvolvimento psicológico, social e na qualidade de vida das pessoas. Tudo indica que interação com animais de companhia provoca nas pessoas resultados fisiológicos, psicológicos e sociais. Por exemplo, as pessoas com animais de companhia apresentam menor número de visitas a médicos e gastos mais baixos com medicação. Apresentam, também, níveis de solidão, depressão e ansiedade mais baixos. Verifica-se, ainda, que os animais de companhia funcionam como facilitadores sociais e de integração para crianças, idosos e pessoas portadoras de deficiência. Estes são apenas alguns resultados encontrados nas centenas de estudos que já foram realizados por psicólogos, psiquiatras e médicos.
“Chegará um dia no qual os homens conhecerão o íntimo dos animais; e nesse dia, um crime contra um animal será considerado crime contra a humanidade.”
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