Amor exigido é amor perdido

 

O amor não se exige, nem se consegue com ameaça.

O amor só vale a pena quando vem de graça; quando é conforto e confronto num só tempo. Templo de dois. Hiato entre o que somos e o que imaginamos ser depois de…

Acontece sem quê nem para quê, quando estamos distraídos – como o vento que atiça repentinamente o vestido.

Não se compra, não se paga.

Devasta mais que praga em plantação quando não é retribuído.

E não, o amor não morre depois que a fome passa. Ele é perfume que engravida as horas. Rima perfeita numa gaiola imperfeita: o coração dos homens.

Não é remédio contra a dor de não saber-se, tampouco goma de mascar para espantar a carência e a solidão.

O amor é um rei teimoso que detesta bajulação: reina onde, quando e como quer.

É por isso que amar é o único movimento que não se aprimora com o tempo.

Quanto mais se ama, menos se aprende a amar – a prática, nesse caso, não leva à perfeição, pois nunca amamos do mesmo jeito, nem com a mesma fome.

Trata-se de uma caso raro onde a repetição leva à derrota e à frustração.

Porque cada amor é um começo. Porque todo amor que começa nos rouba o pouco que sabemos de nós –  e sem sabermos o que pensávamos saber sobre nós, nos sentimentos imensamente sós, ainda que estejamos nus, partilhando os mesmos lençóis.

O amor não é feito apenas de união, mas de ausência: é quando não estamos ocupados de nós que ele acontece.







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.