Amor maduro: quando o primeiro amor não vem na ordem certa

Por Valéria Amado

Às vezes o primeiro amor não vem na ordem certa. Existem relacionamentos que acontecem na idade madura, nos possibilitando descobrir pessoas mágicas e inesperadas em cujos braços gostamos de nos refugiar, porque têm cheiro de lar e seus beijos sabor de açúcar e fogo ao mesmo tempo. Porque o amor maduro não compreende idade, é digno, vital e energizante.

Um fato comum em muitos destes casos nos quais se consolidam relacionamentos tão significativos na idade madura é que um dos membros tinha a total certeza de que no seu caso, as portas do amor tinham se fechado para sempre. Às vezes armazenamos fracassos sentimentais tão desoladores que temos a sensação de que nosso próprio coração, transformado já em pedra, caiu no fundo de um poço.

Os amores maduros são encontrados no meio da tarde da vida. São pessoas livres, tranquilas de coração e ricas de pensamento, porque nos seus rostos dançam os sorrisos e a vontade de continuar amando. Porque às vezes o primeiro grande amor não vem na ordem certa.

Também é preciso apontar uma coisa importante. Nem todas as pessoas, só porque chegaram aos 50 ou 60 anos, são capazes de construir um amor maduro, consciente e feliz. Existem muitos corações amargos que não purgaram penas, que não foram capazes de fazer essa viagem interior para poder perdoar, e fazer das vivências passadas caminhos renovados para transitar com esperança.

Porque a maturidade pessoal não é trazida pelos anos, nem pelos danos. Mas sim pela atitude e sabedoria das emoções onde nem todos adquiriram seu doutorado, seu mestrado. Convidamos você a refletir sobre isto.

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O amor maduro, construindo presentes perfeitos

Quando a gente chega nessa idade em que as décadas já traçaram em nós mais histórias do que poderíamos contar, às vezes nos vemos como essas frutas maduras ligeiramente machucadas nos cantos. Agora, é preciso lembrar que as frutas maduras têm um sabor muito mais doce e prazeroso do que essas outras muito verdes, firmes e ligeiramente amargas.

Nossas experiências não são um lastro. Ao contrário, ninguém deveria ser o resultado das suas decepções, dos seus fracassos, ou menos ainda das feridas que outros causaram. Somos nossa atitude diante de tudo que foi vivido, nunca um mero resultado. Por isso, o amor maduro agrega ao sentimento uma dose de sabedoria para poder construir aquilo que importa de verdade: um presente feliz, um presente digno e apaixonado no qual se descobrir um ao outro.

Nenhum dos dois membros renuncia a seu passado, simplesmente são aceitos, como se aceitam as peles nuas habitadas por algumas cicatrizes, alguma ruga feita pelo tempo nesses rostos e nesses corpos perfeitamente imperfeitos onde, obviamente, também não importam as décadas nem as decepções. Somente o prazer do aqui e agora.

Sábios artesãos do amor

Francesco Alberoni é um conhecido sociólogo especialista em relacionamentos amorosos que nos deu livros interessantes como “Paixão e amor”. Segundo ele, o ser humano ainda não compreendeu quais são os mecanismos do amor autêntico e duradouro. Muitos nos deixamos levar por esse naufrágio químico que é a paixão, a necessidade de um pelo outro, mas poucos conseguem entender que acima de tudo, amar é saber construir.

O amor não tem idade, porque o coração não tem rugas, porque o amor, se é intenso e puro, sempre é jovem.

Os amores na idade madura já conhecem de sobra o que é estar apaixonado, por isso, o que anseiam nesta etapa da vida é uma coisa muito mais profunda e ao mesmo tempo delicada. Desejam intimidade, a cumplicidade de dois olhares que se entendem sem palavras, desfrutar de espaços em comum mas ao mesmo tempo respeitando a individualidade de cada um. Anseiam por um vínculo forte e nobre no qual trabalhar e investir todo dia por esse pacto implícito mas presente: o amor.

Erich Fromm dizia que amar é uma arte. Não é apenas uma relação prazerosa, essa que nos traz sem sombra de dúvida a própria paixão, ali onde praticamente não é preciso fazer nada, apenas sentir, deixar-se levar, respirar, sonhar e deixar-se cair nos recôncavos profundos do desejo.

Amar é uma arte porque requer esforço, é como dar forma a uma escultura ou a uma tela onde cada pincelada é fundamental para dar perspectiva, corpo e beleza a essa obra. O amor maduro, esse que acontece quando já deixamos a juventude, é muito capaz de traçar cada movimento com sutil perfeição porque é um bom artesão das emoções. Porque já não precisa demonstrar nada e sabe muito bem o que quer.

Porque as pessoas autênticas constroem amores autênticos, plenos e realizadores. Não importa então que o primeiro amor não tenha chegado na ordem certa. A vida, no fim das contas, tem um toque maravilhosamente caótico, e não temos mais remédio que nos deixar levar enquanto avançamos com sonhos e com o coração sempre acesso, sempre jovem.







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