Amor não correspondido não é amor, é sofrimento

Querer um amor não é o problema; problema é aceitar qualquer coisa como se fosse sentimento, mesmo não sendo sentimento algum.

Não é difícil confundirmos amor com o que nem chega perto disso. Às vezes, o desejo por amar e ser amado torna os sentimentos nebulosos, levando a pessoa a nutrir algo que, na verdade, faz mal, por alguém que claramente não devolve nada de volta. Querer um amor não é o problema; problema é aceitar qualquer coisa como se fosse sentimento, mesmo não sendo sentimento algum.

Fato é que amar o outro requer, primeiramente, o amor próprio, uma vez que inseguranças, dúvidas e receios acabam por afastar afeto sincero. O amor é verdade, é certeza, é sim, segurança e esteio. Em terrenos arenosos, em que há incerteza e vulnerabilidade, o amor não florescerá, não se instalará, pois suas sementes se alimentam, sobretudo, de reciprocidade.

Como vivemos um mundo em que as aparências imperam, tudo o que vem de dentro encontra poucas chances de se sobressair, de se acomodar. A verdade da essência de cada um é o que importa, porém, como tentar perceber os sentidos, quando somente se valoriza o que se vê, o que se toca, o que se compra? Amor não é barganha, não é produto de vitrine; depende do que se tem por dentro, do que é sentido, trocado, partilhado por atitudes, gestos e olhares.

Talvez por isso as pessoas se enganem tanto com amor, exatamente por tentarem buscar sentimentos através do material, que é o que se dissemina como necessário. Acabam se apaixonando apenas pela superficialidade do outro, sem se lembrar de que afeto vai muito além do que se vê. Prendem-se, assim, ao que o outro aparenta, mesmo que nada recebam em troca, ainda que não se sintam gente perto dele, sem refletir sobre a real importância daquilo que sente, sem perceber o vazio de nada retornando.

O duro é que deixar de amar pode ser quase impossível, em algumas situações. Resta-nos estarmos seguros o bastante de tudo o que temos a oferecer e da qualidade do afeto que merecemos ter de volta. É assim que não aceitaremos qualquer coisa, qualquer um. É assim que haveremos de mergulhar fundo em amor recíproco, amor verdadeiro. É assim que nos salvamos de nós mesmos.

Imagem de capa: Fabiana Ponzi/shutterstock







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.