Presencio diariamente a renúncia do amor e o que poderia ter sido. Já não escolhemos os próximos passos do coração baseados em sentimentos. Hoje em dia, tudo é por afinidades e egos. O romantismo de outrora deu lugar para o pragmatismo emocional. Quer? Não quer? Demorou demais, tchau. Próximo (a). E assim vivemos na superficialidade. Teóricos como Zygmunt Bauman procuraram explicar esses relacionamentos líquidos, onde, perante tantas escolhas, a sensação da paz de estar ao lado de alguém fica em último plano no caso do parceiro (a) não atender os pré-requisitos. Talvez estejamos vivendo tempos dos quais romancizar o amor seja clichê e irreal. Talvez, dispersos por tantas bocas e sexos dobrando em cada match, realmente seja antiquado demais imaginar o sossego do coração pausado. Ou nem isso. De repente, estamos apenas reproduzindo todo o ideal romântico dos grandes amores, bem assim, para tudo e todos, na esperança vã de sermos correspondidos à altura.
Por outro lado, essa substância poética mostrada nos filmes e nas canções seriam, nada mais, que válvulas de escape que sequer acreditamos. Ou que merecemos. O amor pode estar morto, de fato. Pelo menos naquilo que diz respeito ao encontro do outro. Mantemos a energia do carinho somente para a família, trabalho e outros deveres, círculos e prazeres precisos. Mas para somar com alguém? Pra quê? Há coisas mais importantes para lidarmos. Lacunas emocionais podem ser curadas em sessões, leituras e gestos mais. Na pior das hipóteses, um match aqui e outro ali e fica tudo certo. E se nem isso der, estacionamos do lado de alguém aberto demais para perceber a diferença entre carência e amor real. Manipulamos através do ego, percebe? O amor virou moeda de troca, ou melhor, virou troco. E isso é triste. Deixa qualquer resquício do sonhar de lado. É rasteira certa quando você estava ali, suspirando e acreditando.
Mas não adianta. Mesmo depois de tantos percalços e sortes duráveis, jogamos no time dos românticos incuráveis. Não somos os últimos, porque assumir isso seria o início de nossa extinção. Só vende o amor que dura ciclos. Quando ele vislumbra continuidade, quase ninguém quer saber. Lutamos contra a maré. Damos de cara na porta. Noutras, até damos no pé. Por ter feito mal, por não ter acrescentado nada. E continuamos. Amamos. Não entramos em disputas ou contamos o placar. Não precisamos do outro alguém só por momentos de gozo. Não esquecemos de nos amarmos. Queremos simplesmente o amor inteiro. A parceria do que seria de nós sem nós. Se não for para vivermos de amor, pedimos a conta.
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