Por Patrícia Dantas
Cartas se perderam no tempo. Ninguém escreve mais cartas como antigamente. Se temos hoje como enviar uma mensagem que pode chegar ao destinatário no momento real do envio, como escrever cartas a alguém só para manter a tradição, o cheiro do papel tirado do envelope e a ansiedade da espera para logo obter uma resposta?
Já não podemos mais escrever no anonimato? Cadê àquelas cartas endereçadas, mas sem o nome do remetente? Cadê o escritor anônimo por trás de toda àquela trama, que nem Sherlock Holmes ou Aghata Christie desvendaria tão fácil? Tudo precisava de uma investigação a fundo da história de todos os envolvidos. Roteiros tão originais, dignos de filmes policiais que, ao final, emendaria outras tramas de intensa atividade dos sentidos.
Acontece assim também com nossos amores extraviados. Pessoas, relacionamentos esquecidos, ou deixados no meio do caminho. Coisas que caem no absurdo do esquecimento; pessoas que não necessitamos da presença em todas as horas, como se tivéssemos um time para chamá-las bem na hora das nossas consultas emocionais. Claro, há pessoas, amigos e amantes para horas e momentos específicos; pessoas que não exigem que todas as nossas horas sejam devotadas a elas; pessoas que entendem nossa solidão, nosso afastamento quando necessário; pessoas que entendem as nuances da solidão e quando tudo à volta está em festa e exige maior presença.
Mas existe outro meio que pede um olhar mais apurado e cuidadoso: são nossas palavras durante cada encontro, durante cada um momento de festa que nos encontramos com pessoas que talvez nem vejamos mais ou que se ausentarão sem maiores explicações. E esses encontros acontecem para nos mostrar o real valor da pessoa como pessoa-palavra, pessoa-afeto, pessoa-pessoa.
Que nossos amores e palavras não sejam extraviadas, que sobrevivam às menores lembranças. Porque um necessita do outro para não cair no esquecimento ou simplesmente dentro da saudade flutuante no tempo. Dizer, gravar a palavra no outro é o modo de viver um sentimento em tempo real, descrevê-lo e deixar algo na eternidade.
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