Não é possível esperar as notícias chegarem, não é cabível aguardar respostas e decisões, não é viável deixar simplesmente o tempo passar.
Aquela fome que vem repentina e cortante, insuportável, dominante. E com pressa. Se alimenta vorazmente de perguntas, de promessas, certezas, suores, bruxismos, caretas, suspiros…
A ansiedade é aquela fome que consome o bom humor, o bom senso, totalmente sem paladar, que nada sacia e volta sempre com mais fúria.
Algo vai acontecer, é uma certeza. É imperioso adivinhar, solucionar, remediar.
O tempo vai mudar, é preciso prevenir, se antecipar.
Fazer estoques, levantar muros, cavar trincheiras, comprar cadeados, correntes, munição, bombardear o coração com taquicardias insuportáveis.
– Respire, segure o ar, solte. Novamente! Está passando, não vê? Aliviando, te soltando, liberando…
É um conforto, como uma sopinha quente, mas lá vem a fome de novo. A sensação foi tão boa que, por medo de deixá-la passar, a ansiedade voltou correndo, como um bebê carente para o colo dos pais.
Ansiedade é fome mas também é alimento. Alimento para neuroses que nos empenhamos em engordar, alimento para paranoias que amamentamos com carinho, um doce fabuloso para oferecer ao medo de se colocar em equilíbrio perante os desafios da vida.
Ansiedade é veneno. Veneno que quando não mata, fragiliza cada fibra, contamina a alma, descompassa o corpo. Gera tiques, tremores, síndromes e consome a vida de uma forma nervosa e danosa.
E tudo um dia chega ao fim, e, se ainda não chegou é porque ainda não está no fim, a ansiedade ainda é uma grande mentirosa, pois que promete a adivinhação e prevenção do final.
Grande e voraz, essa fome insaciável necessita imediatamente de tratamento, de educação, de conhecer o seu lugar e somente atuar nos momentos inevitáveis.
Em todos os casos contrários, ela nos devorará, sem piedade.
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