Não tenho a pretensão de fazer um relato científico sobre as sensações que tenho tido ao longo desses anos, nem descarto outras histórias de vida que possuam os mesmos sintomas. De fato, eu tenho uma biografia de altos e baixos. Vivi situações que eu costumo chamar de classicamente difíceis. Foi dureza ter que escolher entre comer ou ter o dinheiro da passagem pra escola. Presenciar cenas de violência familiar. Viver o luto da perda de pessoas queridas. Mas sei que diversas pessoas vivem a ansiedade e não tiveram estes episódios no caminho. Seriam elas mais fracas do que eu? Penso, com muita convicção, que não.
Aquela história de “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional” me parece estranha. Aparentemente esta frase me diz que essas inúmeras vezes em que senti meu peito arder, uma intensa ameaça vinda do nada, é fruto de uma seleção minha. Estavam lá várias possibilidades e eu escolhi sofrer. Pois essa afirmativa sendo verdadeira, surge uma questão; Como melhorar nossa capacidade de escolha?
Cá entre nós, eu estou muito interessado em escolher ser mais feliz.
Independentemente de sua história , você é frágil ser humano procurando sossego. Enquanto eu lutava para ter o que comer, o seu problema poderia ter sido um coração partido, uma não-aceitação do nariz, falta de amigos no recreio. Que seja, tudo é problema. Não existe balança. Nossas dores só são vividas por nós mesmos. Até podemos ser solidários com a história do outro, mas é só o outro que sabe exatamente qual o cheiro do ar que respira.
Foram tantas vezes em que simplesmente não consegui mais pensar.
A minha cabeça gira numa velocidade maior do que posso suportar, ou flutua, perde a gravidade, e eu não consigo trazê-la a terra como quero.
Aquela vez, moça, eu não tava sendo grosso, mal educado, era apenas meu corpo pedindo fuga. Do quê? Apenas fuga.
Quando vocês todos falavam na roda e eu não conseguia embarcar no assunto, não era antipatia, pessoal. Eu não estava ali. Enquanto vocês falavam, eu senti minhas ideias correrem sem destino.
E aquela festa que eu voltei mais cedo? Não, eu queria ter continuado lá. Tinha tanta gente legal. Eu pensei tanto conhecer novas pessoas. Mas não deu, meu peito esquentava e todas as minhas percepções eram negativas. Precisava sair dali.
Houve dias piores. Em que a capacidade do disfarce faltou e eu precisei admitir; eu estou com muita ansiedade, e voltei pra casa.
Os nossos sintomas podem ser causados por diferentes motivos, nossa reações podem ser as mais variadas, como o nosso alívio vem de diferentes formas. O meu é a escrita, o verso, o texto. Nada mais me alivia no mundo que a possibilidade de palavrear, reinventar por meio das letras as perturbações que me cercam. O seu alívio pode ser igual ao meu, pode ser o que tiver de ser e também nem existir ainda. Não se envergonhe das suas dificuldades e logo você o encontrará.
Talvez não dê imediatamente de se sentir menos ansioso, talvez demore pra que consiga realizar essas atividades que deseja. Mas vá, pouco a pouco, passo a passo. Andar lentamente para direção certa é melhor do que ficar parado. Se não deu pra conversar por horas, comemore o Bom Dia. Se não foi possível ficar até o fim da festa, comemore ter ido.
Este são conselhos que dou, antes de tudo, para mim mesmo. A ansiedade me namora há anos, deixá-la parece impossível, melhorar os nossos beijos é essencial. Eu quero ainda estar ansioso pelo futuro, mas sem sentir que o futuro me ameaça.
Voltar pra casa depois da festa ter me festejado bem.
E se você tem sensações semelhantes, saiba lendo esta crônica que não é sua a única cabeça acelerada no planeta. Procure ajuda como se sua sensação fosse uma dor de dente nas ideias. Só você sente e sabe a razão dela te impedir de sorrir. Brega, né? É assim mesmo. Os caminhos podem ser os mais clichés, nem tão originais, mas levam a algum lugar.
Pega aí o que você puder de si e vamos.
Imagem de capa: Reprodução