Dizem por aí que a gente se acostuma com tudo nessa vida. De início, as coisas novas nos pegam de assalto, tiram o nosso chão, arrancam da gente aquele suspiro de prazer da novidade. Arrepio. Frio na barriga. Surpresa.
Depois de um tempo, aquilo que era o diferente – para o bem ou para o mal -, acaba se dissolvendo nas coisas mais antigas e familiares; perde a agudeza da estreia e, tal como todo o resto que já estava ali, vira coadjuvante da rotina. Perde a função de nos tirar do torpor das dores ou delícias conhecidas.
É na hora do susto, naquele tempo curto que dura o choque, que temos a chance de sair do lugar, mudar o enredo dos dias, guardar as certezas numa gavetinha escondida e abrir portas e janelas para os ares frescos de uma vida à qual ainda não havíamos sido apresentados.
A visita do novo é rara, e é inesperada. Muitas vezes, inclusive, corremos o risco de confundi-la com o fim de alguma certeza pela qual já havíamos desenvolvido afeto ou apego. O novo pode vir disfarçado numa perda de emprego, num fim de relacionamento, num bem material que nos foi tirado, num desequilíbrio físico, numa confusão mental ou num distúrbio emocional.
O novo nem sempre vem embrulhado em caixas brilhantes ou envolto em laços vermelhos. E por isso, inúmeras vezes, negamos a sua entrada. Erguemos barricadas à porta, como se fosse possível impedi-lo de existir.
Agarramo-nos ao emprego que já não temos, ao amor que já não está, às “riquezas” que nos foram subtraídas, ao equilíbrio perdido… como se abraçados às sombras de tudo que já não existe mais, pudéssemos evitar que o inevitável se cumpra.
Ignoramos o nosso estado mental confuso e insistimos em compreender o incompreensível. Negamos a nós mesmos o direito de aprender que não saber o que fazer faz parte do processo. É o que não sabemos que nos obriga a sair da anestesia da dor. São as perguntas, e não as respostas, que têm a capacidade avassaladora de nos desconstruir para, depois que passar a tormenta, poder gozar da brisa redentora que vem só depois que somos capazes de desenhar pontos finais, onde insistíamos em traçar eternas reticências.
Houve um tempo – e esse tempo durou o suficiente para que se esculpisse uma vida -, em que fiquei fascinada pelas armaduras, pelos escudos e pelas lanças. Um tempo em que meu mantra de sobrevivência era ter coragem. E foi assim, porque era assim que tinha que ser.
As batalhas foram vividas, umas foram ganhas, outras foram perdidas. Mas todas elas cumpriram o seu papel; foram mestras habilidosas na tarefa de me preparar para a compreensão de que nem sempre é pela luta que se ergue uma vitória. Muitas vezes é na mansidão da paciência que se vê florescer aquilo que se pensava poder possuir à força.
O tempo é o pai da vida; é dele que vem a maturidade do olhar de dentro, é por meio dele que temos inúmeras oportunidades de ver além do óbvio, do superficial e do ilusório. Antes eu fazia questão de ser forte, hoje eu faço questão de ser leve. Porque não importa o destino que tenhamos traçado… onde quer que cheguemos, se estivermos com as mãos livres e as costas libertas do peso de tudo aquilo que não nos serve mais, teremos infinitamente mais chance de abraçar uma vida nova; e por que não?!… dançar com ela por aí, até que o novo nos encontre outra vez.
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