Entra. Não precisa tirar os sapatos. Colore a casa com o perfume da tua presença, enche de vida a sala com o balançar do teu vestido, com o piscar dos teus olhos. Faz de cada canto um canteiro onde ficarão plantadas as flores dos nossos dias, das nossas horas passadas ao lado um do outro.
Entra e faz do meu medo do escuro motivo pra ficar.
Entra e faz dos meus cabelos e da minha barba ninhos para os teus dedos-passarinhos.
Entra pra fazer morar aqui essa parte de mim que voluntariamente se mudou pra você.
Entra e revira a minha estante, folheia meus livros, bagunça meus discos.
Entra e pinta as paredes da cor dos teus olhos, para que assim eu não sinta tanta saudade quando você não estiver.
Entra e adoça o meu café com teu beijo.
Entra e assina minhas cartas de amor.
Entra e abre as cortinas pra deixar respirar a poeira da tua ausência.
Entra, anoitece o meu dia, acorda a minha noite e arrepia a minha pele com um “bom dia” ao pé do ouvido.
Entra e faz do mundo um lugar melhor, ainda que dor e sofrimento continuem a existir do lado de fora.
Entra e seja o meu calcanhar de Aquiles, minha kriptonita.
Entra e do mesmo jeito seja minha força e motivo de assobio.
Entra e seja aquilo que bem entender, tudo o que quiser ser ou sentir.
Entra e, antes de ser minha, seja inteiramente tua.
Entra, e não precisa tirar os sapatos… Só o vestido.