Ainda hoje existe no ar uma ideia, controversa, de que ao casar a mulher ganha um marido e com ele todos os afazeres relacionados ao lar e aos filhos. Ainda hoje vigora uma ideia idílica de que essa mulher cresceu em um ambiente a parte, recheado de compotas de doces por todos os lados e que o serviço de casa é algo compulsório assim como o canto da noviça rebelde. Sinto desapontá-los. Não, não é.
Maridos que se comprometem a dividir as tarefas do lar ainda são raros. Encontramos uma infinidade deles que, de vez em quando, resolvem fazer algo, ou melhor, ajudar, mas se você já leu o texto “Eu não ajudo minha esposa” deve saber que uma ajuda implica na ideia de que a obrigação é do outro, sendo essa ajuda quase sempre um “plus” e não um comprometimento de iguais.
Agora imaginem uma cena: um homem e uma mulher recém-casados acordam em um belo dia de sol e ela vai até a cozinha, por vontade própria, preparar um café da manhã delicioso e o leva até o marido na cama. No outro dia, o marido pergunta onde está o café dele. No dia seguinte ele exige que o café esteja na cama sem demora e a mulher que, à princípio, acreditou que o marido fosse um companheiro, se vê em uma situação desconfortável e desanimadora de “ter” que fazer algo que antes era uma doce opção. Com o tempo aquela atmosfera de amor se transforma em uma cheia de ressentimentos e o café, antes com gosto de carinho, passa a ter um gosto amargo de desapontamento.
As mulheres não nascem com facilidades inatas ligadas às atividades do lar. Não tem mãos mágicas que cozinham melhor ou mais rápido que as mãos masculinas. As mulheres foram condicionadas ao lar por anos, por conta de contratos sociais e, infelizmente, ainda hoje em tempos nos quais a união por amor é gritada aos quatro ventos, ao descobrirem que se casaram com alguém que efetivamente não pretende dividir a vida e as tarefas dela com igualdade, acabam por assumirem sozinhas todas a funções do lar.
Por isso eu lhe peço, ao pensar em se casar certifique-se de que o escolhido, antes de querer ser seu marido, tenha no íntimo, a certeza de que será um companheiro. Alguém que não se comporte como visita em sua própria casa, que saiba que uma união determina responsabilidades para ambos os lados. Alguém que participa de ocupações, atividades, e aventuras ao seu lado e que sabe que uma ajudinha em casa, de vez em quando, está bem longe do ideal.
Quando limpar a sujeira varrida para baixo do tapete for tarefa de todos, homens e mulheres juntos, tocaremos o cerne de um amor respeitoso e gentil. Do contrário ainda estaremos vivendo as desigualdades de um mundo de faz de conta no qual um belo elefante branco é comemorado com júbilo, como um presente real maravilhoso, mas que com o tempo leva o presenteado fatalmente à exaustão.
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