Pamela Camocardi

Ao persistirem os sintomas de ilusão, a inteligência emocional deverá ser consultada

Imagem de capa: agsandrew/shutterstock

Ninguém está imune à paixão e, um dia ou outro, todos nós nos iludimos: vemos amor onde não tem, qualidade em pessoas quem nunca as possuíram e saudade do que nunca existiu. Coisas da paixão! Mas, tudo passa e logo os olhos voltam a se abrirem, o coração silencia e o cérebro toma conta das situações. Pelo menos para quem possui a tão desejada “inteligência emocional”.

Inteligência emocional não é encontrada em lojas e não está disponível para vendas. Você só a adquire depois de quebrar a cara inúmeras vezes, chorar mares de desilusão e ser traído por quem te jurou amou eterno. E sabe por que algumas pessoas possuem e outras não? Respondo: porque a ilusão dói menos que a realidade.

É melhor se iludir acreditando que a pessoa “perdeu seu número”, do que entender que ela nunca quis ligar. É mais fácil acreditar em destino, do que “fazer dar certo”. A diferença entre se iludir e tomar um porre de realidade, está na coragem de quem escolhe viver. Se para alguns o término é algo normal, corriqueiro, para outros a frustração se torna motivo de depressão, desespero e angústia.

Há quem encare um fim de amor com serenidade no olhar, já que sabe que, amanhã tudo estará melhor. Porém, em contrapartida a eles, há os iludidos de plantão que, no segundo encontro criam, mentalmente, a lista de convidados do casamento, e se frustram quando as situações não corespondem às suas expectativas.

Na verdade, toda vez que escuto a frase “estou apaixonado”, automaticamente, lembro da famosa frase de Nietzsche: “o amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são.”

Saramago, também dividida do mesmo pensamento de Nietzche. Em o “Ensaio Sobre a Cegueira dizia que: “penso que não cegámos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que, vendo, não veem”.

É preciso entender que no amor não há garantias. Estar em um relacionamento não garante ter companhia. Você pode ser um solitário acompanhado. Bauman, o famoso filósofo das relações líquidas, afirmava que “A solidão produz insegurança — mas o relacionamento não parece fazer outra coisa. Numa relação, você pode sentir-se tão inseguro quanto sem ela, ou até pior. Só mudam os nomes que você dá à ansiedade”.

Desenvolver inteligência emocional não deveria ser uma opção, já que consiste em uma opção de defesa da própria sanidade. Ter autocontrole sob os próprios sentimentos envolve muito mais do que sofrer ou não por amor. Envolve ser responsável pelos “nãos” que devem ser ditos na vida financeira, pessoal e afetiva.

Envolve saber calar quando a vontade é xingar, envolve fazer dieta quando a vontade é comer um pote de Nutella, envolve economizar quando a vontade é comprar a bolsa que custa o valor do seu salário. Isso é ter inteligência emocional: dominar sua mente para o que precisa ser feito.

Saiba reconhecer seus limites, seus pontos fracos e fortes, seus medos e seus erros. Isso é ser inteligente. Recue quando precisar e avance quando se sentir seguro. A incapacidade de reconhecermos as nossas falhas deixa-nos à mercê delas. Pouco importa se você pilota um avião, se tem porte de arma ou se é piloto de fórmula 1, sem autocontrole suas habilidades estão, automaticamente, anuladas. Antes de qualquer outra qualidade, é preciso aprender a lidar com as próprias emoções e controlá-las de modo apropriado.

Não se iluda com sentimentos e ações. Lembre-se que inteligência emocional é ter o coração trabalhando em favor do cérebro e não o inverso.

Pamela Camocardi

A literatura vista por vários ângulos e apresentada de forma bem diferente.

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