Por esses dias tive a curiosidade de saber o que representa a tecla “ESC” do teclado, e em minha ignorância fiquei surpreso ao descobrir que significa “escape, sair, cancelar”. Devo ser o único a não saber. Apenas tinha conhecimento que em situações de conflito no sistema, servia para me livrar de uma surpresa operacional. Para alguns conflitos, faz-se útil pressionar esta tecla, mas quando somos embebidos de virtualidade, acreditamos que podemos tratar o outro como uma máquina sem sentimentos e descartá-lo com um único gesto. Antigamente havia a exclamação: “Não bata o telefone na minha cara!!”, agora, fica o silêncio de uma mensagem não visualizada. Confuso? Explico.
As redes sociais e seus mecanismos de interação social, no que tange o “amor”, têm se tornado uma tragédia. Alguns amantes chegaram à conclusão que podem resolver seus problemas a partir de mensagens desconexas e parciais via “whatsapp” e afins, e desconsideram o fator presencial.
As trocas de mensagens permitem um verdadeiro conflito entre significados e significantes. De forma prática, pode-se dizer que o emissor tem a intenção de comunicar algo despretensioso e simples, e o receptor admite a mensagem como ofensiva e pretensiosa. Com o conflito instalado, o ideal seria a resolução a partir da presença dos interessados, mas a digitação apressada com pouca reflexão assume a posição mental e cerebral e se revela como única linguagem, acéfala, no momento.
A linguagem com interpretações parciais dos sujeitos envolvidos tem um componente perigoso: o ato impulsivo. A necessidade de solucionar os conflitos naquele momento a partir de fragmentos condena qualquer perspectiva de sobrevivência do sentimento real que nos faz amar. Confunde-se troca de mensagens por diálogo. Acredito que o segundo envolve humanidade e abertura para o sentimento, enquanto o primeiro é o espaço vazio com letras esparramadas, nascidas da pretensa compreensão do que o outro tentou afirmar.
Na indissolubilidade do conflito instalado a partir da incompreensão dos amantes, a angústia de não se chegar a lugar algum, nos faz teclar “SAIR” ou adotar a atitude de escapar (ESC). Trata-se a relação problemática como se fosse um sistema que apresenta falhas operacionais, e não restando alternativas, escapo. A escapada se agrava quando não há tentativa de aproximação real. O imaginário das trocas de mensagens assume a posição de real; realidade forjada e comprometida.
As tecnologias estão presentes e não se espera que retroajam, mas interessaria uma aproximação entre os dedos apressados que digitam solitários imersos na imaginação e o verdadeiro objeto de desejo e amor.
O conflito possui uma grande chance de solução quando ouço o tom de voz, percebo o brilho nos olhos do falante e acompanho seus gestos direcionados por uma linguagem abrangente. O calor não pode faltar quando trato do que representa o amor. Sentimentos que se estruturam nas mensagens fragmentadas, com elas se associam e tornam-se um amor em migalhas, ESCapado e perdido na virtualidade.
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