A vida é mesmo cheia de vicissitudes, de problemas, de pedras no caminho, parafraseando Drummond. Ao nos depararmos com essas dificuldades, muitas vezes tendemos a desistir de nossos objetivos ou acabamos nos torturando pelos fracassos. Todavia, os fracassos fazem parte da vida, bem como as dificuldades e os problemas que parecem não ser passíveis do nosso controle, de modo que uma dose de humor parece-me fundamental para permanecer na caminhada.
É preciso aprender a rir de si mesmo e levar-se menos a sério para conseguir atravessar o mar de tormentas que é a vida. Ficar preso a acontecimentos passados, assim como, guardar sentimentos negativos e feridas, somente retira a energia que nos mantêm firmes. Não se trata de estar o tempo inteiro feliz e sorrindo ou desconsiderar a importância da tristeza, como faz a ditadura da felicidade, mas antes, perceber que não existe o botão pause na vida e, assim, devemos continuar apesar das quedas que sofremos.
Em uma sociedade que cobra demais de nós, torna-se mais difícil rir de si mesmo e dos erros e fracassos que cometemos. Entretanto, devemos lembrar que somos humanos e não autômatos, de maneira que, inevitavelmente, por mais precavidos que sejamos, iremos errar e fracassar, pois a maior parte das coisas não depende unicamente dos nossos desígnios. Existem coisas que acontecem e que estão fora do nosso alcance, portanto, levar-se a sério, a ponto de culpar-se por acontecimentos para os quais nada concorremos é negativo e traz serias conseqüências para nós mesmos.
Errar é um traço da nossa humanidade e demonstra a nossa fragilidade. Podemos encará-la como algo trágico e insuperável, ou com humor, permitindo-nos rir de nós mesmo, até para que possamos digerir a situação com inteligência e retirar aprendizagens para situações futuras. Mais uma vez, não se trata de não ficar triste ou chateado com uma situação, mas de permitir-se ao erro, pois somos humanos, não perfeitos. Ademais, o crescimento emocional depende da superação das frustrações. Ficar parado no tempo sofrendo não resolve situação alguma, do mesmo modo que não nos permite crescer enquanto pessoa.
Ainda sob esse prisma, o riso também possibilita o crescimento emocional, pois ele permite que sentimentos negativos, como o ódio e o rancor, se transformem em amor e perdão e isso faz qualquer indivíduo se tornar maior, assim como nos permite prosseguir sem o peso de energias negativas que diminuem a nossa potência de ser.
Contudo, para que se possa rir do mundo, dos outros e de suas tragédias, é necessário aprender a rir de si próprio e das suas próprias tempestades. Para tanto, deve-se encarar a vida com certa leveza, a fim de que, embora continuemos conseguindo sentir o chão, aprendamos a caminhar de forma mais leve e paciente, uma vez que nem sempre o mar nos dá as ondas que queremos e, acima de tudo, quando queremos.
Aceitar-se, bem como permitir-se, são atitudes indissociáveis ao riso e ao crescimento emocional, o que nos permite continuar na estrada, ainda que nela existam pedras. Sempre que a dor pareça insuportável e o fardo pese demais, é preciso parar e descarregar as lágrimas que encharcam nosso peito. Mas, em seguida, é necessário rir para aliviar a cólera e fazer da tragédia da vida algo mais palatável e lúdico, pois a vida é uma grande incerteza, cheia de ruídos que nos amedrontam e tiram o nosso fôlego, e o riso, diante disso, é o que nos permite ter graça para demonstrar que, mesmo sob tempestades, sabemos cantar e dançar na chuva.
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