Aprenda a calar em público. Falar demais é o jeito mais fácil de não ser ouvido.

Coragem. Você consegue. Não responda, não conteste, não fale se não for urgente. Tem muita gente falando demais aqui, ali, em todo canto. Você sabe. Falar demais é um velho jeito de dizer nada. Além do mais, com toda essa multidão tagarelando, ninguém vai ouvir mesmo o que você diz. Espere a noite cair, o silêncio chegar, os ouvidos se abrirem com calma de flor. Aguarde alguém perguntar.

Acredite. Perder o medo de falar em público é mais fácil que ter coragem de calar a boca. Nestes tempos de balbúrdia e falatório, ficar quieto é duro, penoso, difícil. Mas é preciso. Vê quantos oradores se gabando de sua eloquência? Quanta gente cacarejando as mesmas coisas, ao mesmo tempo, para as mesmas pessoas que, com tanto grito, já não ouvem nada. Enquanto o mundo inteiro fala, a gente precisa aprender a calar.

Está sobrando discurso e faltando discrição, essa difícil arte de calar em público. Falar é coisa que reclama prudência, recato, critério. Quem fala carece de pensar primeiro. E olha que coisa: ensinamos uma multidão a falar sem medo, em público, e esquecemos de educá-la a pensar com ousadia, em casa, cada um na companhia de suas reflexões, suas dúvidas e angústias, seus sonhos e planos.

Fala sem pensamento é mera repetição, bobagem, barulho. Lixo. Quem não teme falar em público devia ter o arrojo de calar na intimidade. Calar e pensar. Sentir e fazer. Essas coisas que pedem quietude, paciência, concentração. Coisas que costumam acontecer em silêncio.

Afinal, calar-se não é coisa de quem não sabe falar. É hábito de quem deseja ouvir, refletir, aprender. Para concordar ou discordar é preciso emudecer, ouvir, pensar. E pensar é um exercício silencioso. Mesmo quem pensa alto carece de um pouquinho de mudez. Porque falação demais atrapalha e ninguém ouve.

Quem deseja ser ouvido pelo outro há de se ouvir primeiro. Há de falar consigo mesmo no remanso, escutar seu próprio apelo, reconhecer a voz distante de sua dor, vibrar com a alegria guardada de seus sonhos. Saber o que lhe fala e o que lhe cala mais fundo. Essas coisas que pedem silêncio. Silêncio. Silêncio.

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

Recent Posts

Amanda Kimberlly registra boletim de ocorrência por ataques à filha com Neymar

A influenciadora deixou claro que não tolerará mensagens de ódio contra sua filha e pretende…

16 horas ago

Um filme deliciosamente atrevido na Netflix para aquecer sua noite a dois

Este filme só para maiores disponível na netflix oferece a dose de diversão que você…

20 horas ago

Modelo é presa sob suspeita de envolvimento na morte de delator do PCC

Jacqueline Moreira, que foi presa na últuma quinta-feira (16), tem 28 anos e é moradora…

2 dias ago

Dono de bet e esposa. Quem eram os integrantes do helicóptero que caiu em Caieiras

Um helicóptero com quatro ocupantes caiu no Morro do Tico Tico, em Caieiras, no interior…

2 dias ago

Novidade na Netflix: Filme de ação e comédia marca retorno de Cameron Diaz às telas após hiato de 11 anos

Cameron Diaz e Jamie Foxx esbanjam química nesta superprodução da Netflix que acaba de "sair…

2 dias ago

Turista argentino viraliza ao usar aparelho para desligar caixas de som na praia; conheça os riscos

O uso do aparelho é proibido no Brasil e em diversos outros países e envolve…

3 dias ago