Fabíola Simões

Aprenda a fazer falta. Principalmente para quem sabe onde lhe encontrar

Ontem, conversando com uma amiga pelo WhatsApp, ela me contando sobre o fim de um relacionamento, me disse: “Vou sumir. Fazer ele sentir falta”. E concordei, pois embora essa seja uma artimanha arriscada, é uma das únicas que pode dar certo.

De vez em quando o único remédio é sair de cena para o show continuar. Aprender a ser ausência quando tudo já foi dito, cobrado, explicado. Deixar de ser insistência para ser abstinência.

Controlar os próprios impulsos pode parecer simples, mas é uma das coisas mais difíceis de se conseguir. Tanta alegria dando sopa lá fora e a gente teimando em se fixar na pessoa que foi embora.

É preciso entender que enquanto você insiste em checar os horários em que o outro “visualizou por último” no WhatsApp, muita vida está acontecendo e sendo deixada pra trás.

É claro que no início vai ser mais difícil _ não é de uma hora pra outra que o coração entende as mudanças de planos e estações _ mas aos poucos, bem aos poucos, a gente aprende a fazer falta.

Suma do mapa de quem sabe onde lhe encontrar e até o momento não se importou; pra quem teve todos os seus sorrisos e nunca valorizou.

Saia de cena de quem você ouviu inúmeros “nãos” e nunca acreditou; de quem pouco se relacionou e muito se cansou. Do afeto pequeno que tanto lhe recusou e você sempre aceitou.

Suma do mapa de quem vive com dúvidas e nunca lhe teve como certeza; de quem não aprendeu a remar junto e agir com gentileza.

Aprenda a fazer falta para quem já se habituou à sua presença e desaprendeu a sorrir quando você aproxima. Pra quem se esqueceu como é boa a sua companhia e prefere se refugiar numa vida fria.

Fazer falta é segurar o impulso de procurar, vasculhar, perguntar. É frear a vontade de entender o que não dá mais para explicar ou de justificar o que não merece absolvição.

Fazer falta é não ligar, não mandar mensagens, não digitar o tal endereço na barra de contatos do email. É sair para se distrair com os amigos, dar uma corrida no parque, respirar fundo e encontrar sentido na solidão. É orar para o pensamento acalmar, não bisbilhotar o perfil da pessoa no Facebook, deixar de postar as próprias fotos com a intenção de ser visto à distância. É desistir de parecer bem quando não está bem, é cortar o cabelo para renovar o espírito, é ficar bem longe do celular enquanto toma um copo de cerveja ou uma taça de vinho. É, acima de tudo, agir com esquecimento para quem sempre pareceu esquecer você.

Torço para que minha amiga consiga sumir. Para que, sumindo, ela descubra se realmente faz falta. Para que, sumindo, ela descubra o quanto sua presença é importante ou não. Sumir é uma estratégia arriscada, eu sei. Mas também define muita coisa mal resolvida. Também traz as respostas que buscamos e nem sempre encontramos.

Nem sempre as respostas serão aquelas desejadas, mas no fim nos libertam a prosseguir com mais certeza, clareza… e amor próprio.

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Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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