Uma conversa sobre a difícil tarefa de educar.
Quando pais recém-nascidos me perguntam a partir de qual idade devem começar a educar seus filhos, sou obrigada a revelar-lhes que estão pelo menos com nove meses de atraso. A educação de uma criança que está prestes a chegar ao mundo, começa ainda no ventre materno, desde a sua concepção para ser mais exata.
Essa é uma aprendizagem fundamental, e se olharmos com um pouquinho de interesse e generosidade, veremos que é até bem simples: ninguém nasce sabendo ser pai e mãe, não há escolas que nos preparem para as variadas fases da vida de um filho, incluindo todas os desafios e implicações.
Sendo assim, eu costumo dizer que o tempo de gestação deve funcionar como um período preparatório para todos os envolvidos. E, é claro que toda informação – desde que venha de uma fonte confiável -, é bem-vinda. Ler a respeito das fases do desenvolvimento infantil, procurar informar-se sobre a reviravolta hormonal que vai ocorrer de forma inexorável no corpo da mãe, tentar entender o quanto a relação de um casal será modificada a partir do nascimento de um bebê. Tudo isso, e mais uma variedade de coisas bacanas, como cursos de gestante para o casal, palestras educativas e muito, muito diálogo para ir acomodando as expectativas, incertezas e maravilhas dessa incrível aventura que é ser pai e mãe, pode agregar conhecimento e preparo.
Acontece que, por mais bem preparados que estejamos para dar conta das infinitas tarefas que envolvem um recém-nascido: fraldas, amamentação, cor do cocô, tempo de sono, cólicas, brotoejas na bochecha, assaduras no bum-bum e acrescente-se aqui uma listinha considerável de variáveis, há ainda a parte mais delicada e humana: a educação e orientação do processo de desenvolvimento, incluindo a formação da personalidade e o comportamento. Sim, porque esse pacotinho rechonchudo e rosado vai crescer.
Educar uma criança é um dos maiores desafios da humanidade. E é verdade mesmo que elas não vêm com manuais de instruções ou legendas. Uma boa parte do sucesso vai depender do quanto os pais, ou aqueles que tenham assumido essa responsabilidade, estejam em sintonia, disponíveis para assumir que não sabem muita coisa a respeito e que sempre terão o que aprender.
A disposição para construir um código de autoridade amorosa e coerente, é tão ou mais importante do que acertar o intervalo das mamadas, descobrir a origem do choro intermitente, ou escolher a melhor pessoa para dividir a tarefa de cuidar dessa criança, caso os envolvidos nessa nova vida tenham uma atividade profissional que envolve horas fora de casa.
E verdade seja dita: ninguém acha graça nenhuma em crianças que gritam a plenos pulmões no apartamento vizinho, sapateiam na loja de brinquedos dando um show de berros estridentes ou se jogam ao chão todas as vezes que têm os seus desejos negados ou são contrariados.
O fato é que é da natureza humana encontrar atalhos para conseguir o que quer; e as crianças são seres dotados de uma potente antena parabólica, capaz de captar brechas emocionais na força de vontade de seus responsáveis. Se a birra der certo uma única vez, prepare-se, meu amigo, porque caso nada seja feito para mudar essa percepção infantil rapidamente, você acaba de se tornar cúmplice na criação de um pequeno tirano. E reverter esse processo é infinitamente mais difícil do que impedir a sua instalação.
A boa notícia é que tem jeito. E vão aqui algumas ponderações que podem ajudar um tiquinho àqueles que querem fazer dessa missão desafiadora que é ser pai e mãe, a possibilidade de incluir no mundo pessoas de caráter e bom coração. São singelas reflexões apenas, mas trazem em sua significância nuclear, a base de uma educação amorosa e com autoridade.
1. Converse. Converse com o bebê ainda na barriga. Converse com o recém-nascido enquanto cuida dele. Converse com o bebê já maiorzinho. Converse com o pequeno desbravador que põe tudo na boca, parece querer conhecer o mundo a pé e experimentar tudo à sua volta. A voz dos pais é reconhecida pelos pequenos, isso é comprovado cientificamente: leia, conte histórias, cante, ensine o que é certo, desde a gestação.
2. Não grite! Nunca! A criança reage negativamente a sons abruptos e falas agressivas. Mantenha o tom de voz calmo, fale devagar, abaixe-se à altura da criança, gaste um tempo nisso: olhos nos olhos. E procure encurtar a bronca quando for necessária – sempre em voz baixa, até as broncas, ou elas, principalmente; sermões intermináveis são inúteis, depois de dois minutos a criança já estará divagando em outros pensamentos, muito mais interessantes.
3. Nunca prometa o que não for capaz de cumprir. Ensina-se a ser honrado, sendo honrado. E, em hipótese alguma, use ameaças ou pequenos subornos, como premiar atitudes corretas. Crianças aprendem com muita facilidade a utilizar moedas de troca. E a gente odeia esses políticos corruptos, não é mesmo?!
4. Entenda que sua vida social precisará de ajustes, a partir da chegada de um bebê. Shoppings lotados, restaurantes badalados, bares ruidosos, ruas de comércio com multidões de gente, não são lugares para se levar um bebê. Os bebês ficam irritados com o excesso de estímulos visuais e sonoros. Depois, não reclame das noites insones e dos choros “sem motivo”.
5. Não vicie a criança apenas na companhia dos pais. É importante ir introduzindo aos poucos a convivência com pessoas próximas: avós, tios, madrinha, padrinho, pessoas da confiança dos responsáveis e que podem cuidar tão bem quanto eles, pessoas em cuja companhia a criança se sinta confortável e segura. Assim, até vai dar para dar aquela escapadinha de vez em quando para os tais bares, shoppings e restaurantes que não são adequados aos pequenos.
6. Quando estiver cuidando da criança, esteja cem por cento presente. Evite ficar com a TV sempre ligada, ou mexer no celular enquanto amamenta ou alimenta seu filho. Essa atitude é, analisando de forma realista, um baita descaso.
7. Organize uma rotina para incluir a criança no dia a dia da casa e das pessoas que nela vivem. Estabeleça horários para amamentar, dar banho, dar comida, tomar um solzinho, brincar, ler para seus pequenos, cantar com eles e, dormir. Essa previsibilidade acalma a criança.
8. Evite com todas as suas forças levar seu bebê para sua cama. No começo é muito difícil mesmo. Pode ser que o pequeno tenha o sono mais agitado, durma em pequenos intervalos e solicite atenção demais à noite. Mas, acredite: essa peregrinação noturna vale à pena. Se há um casal envolvido, ou mais de uma pessoa, o certo é que essa tarefa de levantar à noite seja repartida. E se tiver sido um dia difícil demais, todos estiverem cansados demais, ainda assim, resista à facilidade de colocar o pequeno para dormir com os grandes. O hábito de dormir com os pais tira da criança importantes oportunidades de amadurecimento emocional. E, de jeito nenhum, estou falando para deixar o bebê chorando até dormir, essa prática é igualmente danosa. O segredo é: paciência, persistência e força de vontade. Uns demoram mais, outros menos, mas uma hora o bebê vai sentir prazer em dormir na sua própria cama e você vai agradecer por não ter caído em tentação.
9. Outra prática de consequências futuras indesejadas é essa história de dar palmadinhas no bumbum, ou tapinhas de leve na mãozinha da criança, como forma de ensinar o que não se pode fazer. Sinto muito, mas esse tipo de atitude, ensina a criança que usar a força para se conseguir o que se quer é um meio lícito. Contenha a criança, com firmeza e doçura, olhe nos olhos e corrija, sem gritar, sem se descabelar. Calma! As atitudes coerentes e firmes educam muito mais do que a gritaria e as tais “palmadinhas do bem”. Não existe palmadinha do bem!
10. Ensine seu filho a cuidar de suas coisinhas. Arrume o quarto com estratégias possíveis de organização para a criança: caixas plásticas, sacos de tecido, caixas de papelão encapadas, vale a imaginação. Guarde os brinquedos de forma setorizada: bonecos num lugar, carrinhos em outro, peças de encaixe em outro. Uma ideia bem divertida é usar aquelas sapateiras antigas de plástico – aquelas bem simples mesmo, que têm bolsinhos, sabe? -, em cada bolsinho um boneco, por exemplo. Acabou de brincar, ensine a guardar.
11. Tão logo seja possível, inclua a criança nas tarefas da casa: dobrar as toalhas que são recolhidas do varal, ajudar a colocar a mesa, guardar as compras do supermercado, ajeitar o quarto na hora de acordar e dormir, colocar sua louça usada na pia. Quando sente que faz parte do grupo familiar, a criança se sente segura e necessária.
12. Seja coerente a respeito do que é permitido, proibido ou negociável. Se a criança sentir que você não tem firmeza sobre o que determina, vai desenvolver técnicas de manipulação e terá sérios problemas em seguir regras e acatar autoridade no futuro.
E para dar cor, sabor e significado a essas pequenas ideias, vai aqui o meu mais sincero e amoroso conselho como mãe e profissional que vem dedicando toda uma vida a estudar os aspectos que envolvem as diversas áreas do desenvolvimento infantil: Divirta-se sendo pai e mãe! Aproveite essa época de tantas aprendizagens, para fazer emergir daí de dentro um ser humano mais ético, consistente e comprometido com o destino da humanidade!
Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Juntos pelo acaso”
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