Eu trabalhei por dez anos num Colégio chamado Rainha da Paz. É um colégio católico da ordem das irmãs Dominicanas. Havia, e ainda há, Ensino Religioso nesse colégio. No entanto, era bem legal a maneira como éramos orientados a trabalhar essas questões ligadas à religião. Naquela época eu era espírita e sempre tive minha crença respeitada. Tinha uma irmã bem velhinha que recebia as doações de alimentos à época das campanhas da fraternidade; em troca das doações, ela dava balinhas às crianças.
Fui muito feliz no Rainha. Meus filhos estudaram lá e foram muito felizes também. Tenho amigos e amigas do Rainha que fazem parte das pessoas queridas que moram no meu coração: Luiza Eichenberger da Silva, Maria Thereza Saranda Svartman, Iria Helena Bertolin, Marina Gazelli, Ana Maria Eiras, Edith Chacon Theodoro, Luzia Fonseca Marinho, Gustavo Eiras, Rafael Carneiro, Roberto Gonçalves, Fátima Dos Santos Perez, Mariana Canhisares, Maria Libia Hoffert, Marcia Jahnel Passoni, Maria Luisa Gatti, Siça Arruda, Maria Amélia Fernandes, Nilba Clementi, Roberta Justi e, pra sempre vivo no meu coração, Liam Mc Auliffe ❤
Se eu me esqueci de alguém… peço que me perdoe!
Curiosamente, a maior parte dessas pessoas não tem mais vínculos materiais com o Rainha. Mas, cada uma delas me ensinou muitas coisas.
Certa vez, por ocasião da Páscoa, participamos de uma vivência muito interessante: cada um de nós recebeu um papelzinho, no qual deveria escrever coisas, comportamentos, pensamentos ou sentimentos que gostaria de mudar em si mesmo. Se não me engano, essa foi uma ideia da Mamé! Na hora, até brinquei que ia precisar de uma cartolina, frente e verso, para poder escrever tudo que precisava mudar em mim pra ser uma pessoa melhor. Kkkkkk
Bem… Depois de termos escritos nossos “defeitos” no papel, fomos convidados a ler o mais representativo em voz alta, e dizer porque aquela questão, em especial, nos incomodava, a ponto de querermos transformá-la. Quando todos haviam falado, a Mamé disse que deveríamos nos concentrar em tentar transformar apenas aquele ponto escolhido, porque, provavelmente, todos os outros eram, de alguma forma, consequências ou efeitos colaterais do “chefe da gangue”.
Eu me lembro, como se fosse hoje, que à época, dadas as circunstâncias e situação de vida em que me encontrava, eu escolhi me livrar da mágoa. A celebração terminou com todos nós, numa grande roda, jogando seus papeizinhos numa pira de fogo. Pode parecer bobagem, mas aquele gesto simbólico desencadeou uma verdadeira revolução dentro de mim. Eu era, de fato, uma pessoa muito “magoável” (isso me leva a outro momento de aprendizado que vivi com a Nilba, mas esse episódio fica pra outra história). E, A partir daquela noite, compreendi que tudo o que me magoava, não era culpa do magoador; era minha responsabilidade! Só nos magoa aquilo que nos toca, aquilo que encontra eco dentro de nós, aquilo que serve como uma luva. Por exemplo, se alguém me acusar de ser avarenta, vai passar reto, porque não faz nenhum sentido. Ou vou achar que é trolagem, ou ironia, ou que vem de alguém que não faz a menor ideia de quem eu sou. E, nos três casos, o que foi dito passará como uma brisa fresca. Agora, se alguém disser pra mim “Ana, você é muito indisciplinada, distraída, teimosa…!” – vai bater direto aqui dentro, porque é verdade! Porque faz todo sentido!
A diferença é que, depois que eu fui lavando, esfregando e desaguando a mágoa de dentro de mim, hoje, quando o outro diz algo que me fere, porque é real, eu fico uns dias digerindo aquilo, refletindo sobre, lendo e relendo os desdobramentos do que foi dito na minha maneira de existir no mundo. Fico com o que há de me nutrir e deixo ir a parte que só serviu pra fazer doer. E, a partir disso, me empenho na transformação.
Hoje, o “chefe da gangue” atende pelo nome de vaidade. Não a vaidade física, porque essa só afeta, traz benefícios ou malefícios a mim mesma. Falo da vaidade intelectual, aquela que desperta o Hulk dentro de mim, quando alguém ataca meu ponto fraco, acusando-me de não saber, não entender, não ter competência, não ter estudado. A vaidade se revelou pra mim hoje, num papelzinho onde escrevi minhas limitações, o que quero transformar. Todo o resto que me fere a alma é efeito colateral dessa senhora cheia de si, orgulhosa e arrogante: A VAIDADE!
Por enquanto, ainda estou perplexa com a minha descoberta. Aquele estado de choque sabe? Estou olhando pro resultado do exame. Não sei nem por onde começar.
Mas como já tive como chefe da gangue, em uma galáxia muito, muito distante, a IMPACIÊNCIA, tornei-me, como dizem meus filhos, dona de uma paciência que beira o infinito.
Deixarei a vaidade ser decantada dentro das minhas veias, gritar nos meus ouvidos, apertar minha garganta, me arder em febres de negação, até que seja possível deixá-la vazar por todos os meus poros. Vai demorar! Será um processo longo, passando por todas as benditas fases do luto.
Que hoje, na sua Páscoa, você consiga descobrir quem é o “chefe da sua gangue”. E consiga olhar bem nos olhos dele e dizer: Eu te aceito, te reconheço, te perdoo. Mas não te acolherei mais em meu peito! Pode ir! Eu te liberto!”.
FELIZ PÁSCOA!
Ana Macarini
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