Às vezes a gente se afasta para refletir; outras vezes, porque já refletiu bastante

Todos sabemos ser praticamente impossível refletirmos com a lucidez necessária, quando estamos protagonizando os momentos de tempestade que assolam as nossas vidas. Faz-se necessário, nesses momentos, o afastamento de tudo aquilo que nos machuca, ou nenhuma solução chegará até nós com a clareza de que então precisaremos.

E, quando as questões problemáticas envolvem diretamente aqueles que amamos, tudo parece mais denso, mais nebuloso, menos passível de ser resolvido. É muito difícil enfrentarmos as nossas próprias escuridões, bem como aquelas em que mergulham os nossos queridos, pois ambas nos deixam à mercê de inseguranças cujo enfrentamento também requer o nosso afastamento.

E esse afastar-se, no caso, não necessariamente implica o distanciamento físico, mas sim emocional. É necessário que tentemos enxergar as dificuldades de fora, como se aquilo tudo não fosse nosso, para que a carga afetiva se torne menos densa e então possamos vislumbrar possíveis saídas ao que parece insolúvel.

Assim também ocorre com os nossos relacionamentos. Quando chegamos a um ponto crítico, em que se acumularam mágoas e ressentimentos, em que nada mais parece ter sentido algum, quando as discussões se repetem exaustivamente, dia após dia, é chegada a hora de se afastar daquilo tudo. Dar um tempo a si mesmo é vital para a recarga de energias e para a reflexão sincera sobre a real necessidade do outro em nossas vidas.

Será necessária muita coragem, tanto para persistir, quanto para desistir de alguém, pois qualquer uma das decisões nos levará ao encontro do inesperado. Caso ainda haja sede de recomeçar, caso ainda reste amor verdadeiro e vontade de mudar, de ambas as partes, vale a pena reaproximar, retomar, perdoar-se e perdoar. Caso contrário, a única saída possível, que garantirá a própria sobrevivência, será não mais retornar.

Qualquer atitude que tomarmos, desde que pensada, repensada, refletida e amparada pelo coração, será a melhor para nós e para quem estiver – ou não mais – caminhando conosco. Não poderemos errar, caso tenhamos tido o tempo necessário para escutar com firmeza e resignação aos anseios de nossa alma, priorizando a nossa busca pela felicidade com que sonhamos, de maneira sincera e ética.

Porque respirar os ares translúcidos das verdades de nossos corações sempre será a melhor forma de levantarmos, de continuarmos, de perseverarmos, após cada tombo, cada dor, cada lágrima pelo caminho.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

Tire as crianças da sala antes de dar o play nesta série cheia de segundas intenções na Netflix

Uma série perfeita para maratonar em um fim de semana, com uma taça de vinho…

2 dias ago

Você não vai encontrar outro filme mais tenso e envolvente do que este na Netflix

Alerta Lobo ( Le Chant du Loup , 2019) é um thriller tenso e envolvente…

2 dias ago

Trem turístico promete ligar RJ e MG com belas paisagens a partir de 2025

Uma nova atração turística promete movimentar o turismo nas divisas entre o Rio de Janeiro…

2 dias ago

Panetone também altera bafômetro e causa polêmica entre motoristas

O Detran de Goiás (Detran-GO) divulgou uma informação curiosa que tem gerado discussão nas redes…

2 dias ago

Homem com maior QI do mundo diz ter uma resposta para o que acontece após a morte

Christopher Michael Langan, cujo QI é superior ao de Albert Einstein e ao de Stephen…

3 dias ago

Novo filme da Netflix retrata uma inspiradora história real que poucos conhecem

O filme, que já figura entre os pré-selecionados do Oscar 2025 em duas categorias, reúne…

3 dias ago