Às vezes a gente se afasta para refletir; outras vezes, porque já refletiu bastante

Todos sabemos ser praticamente impossível refletirmos com a lucidez necessária, quando estamos protagonizando os momentos de tempestade que assolam as nossas vidas. Faz-se necessário, nesses momentos, o afastamento de tudo aquilo que nos machuca, ou nenhuma solução chegará até nós com a clareza de que então precisaremos.

E, quando as questões problemáticas envolvem diretamente aqueles que amamos, tudo parece mais denso, mais nebuloso, menos passível de ser resolvido. É muito difícil enfrentarmos as nossas próprias escuridões, bem como aquelas em que mergulham os nossos queridos, pois ambas nos deixam à mercê de inseguranças cujo enfrentamento também requer o nosso afastamento.

E esse afastar-se, no caso, não necessariamente implica o distanciamento físico, mas sim emocional. É necessário que tentemos enxergar as dificuldades de fora, como se aquilo tudo não fosse nosso, para que a carga afetiva se torne menos densa e então possamos vislumbrar possíveis saídas ao que parece insolúvel.

Assim também ocorre com os nossos relacionamentos. Quando chegamos a um ponto crítico, em que se acumularam mágoas e ressentimentos, em que nada mais parece ter sentido algum, quando as discussões se repetem exaustivamente, dia após dia, é chegada a hora de se afastar daquilo tudo. Dar um tempo a si mesmo é vital para a recarga de energias e para a reflexão sincera sobre a real necessidade do outro em nossas vidas.

Será necessária muita coragem, tanto para persistir, quanto para desistir de alguém, pois qualquer uma das decisões nos levará ao encontro do inesperado. Caso ainda haja sede de recomeçar, caso ainda reste amor verdadeiro e vontade de mudar, de ambas as partes, vale a pena reaproximar, retomar, perdoar-se e perdoar. Caso contrário, a única saída possível, que garantirá a própria sobrevivência, será não mais retornar.

Qualquer atitude que tomarmos, desde que pensada, repensada, refletida e amparada pelo coração, será a melhor para nós e para quem estiver – ou não mais – caminhando conosco. Não poderemos errar, caso tenhamos tido o tempo necessário para escutar com firmeza e resignação aos anseios de nossa alma, priorizando a nossa busca pela felicidade com que sonhamos, de maneira sincera e ética.

Porque respirar os ares translúcidos das verdades de nossos corações sempre será a melhor forma de levantarmos, de continuarmos, de perseverarmos, após cada tombo, cada dor, cada lágrima pelo caminho.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

Agnaldo Rayol falece de forma trágica aos 86 anos e deixa legado na música brasileira

O cantor Agnaldo Rayol, uma das vozes mais emblemáticas da música brasileira, faleceu nesta segunda-feira,…

11 horas ago

Padre causa polêmica ao dizer que usar biquíni é “pecado mortal”

Uma recente declaração de um padre sobre o uso de biquínis gerou um acalorado debate…

11 horas ago

A triste história real por trás da série ‘Os Quatro da Candelária’

A minissérie brasileira que atingiu o primeiro lugar no TOP 10 da Netflix retrata um…

12 horas ago

Você sente “ciúme retroativo”? Ele pode arruinar as relações

O ciúme retroativo é uma forma específica e intensa de ciúme que pode prejudicar seriamente…

2 dias ago

Reese Witherspoon volta à comédia romântica neste filme encantador que conquistou o público da Netflix

Este comédia romântica da Netflix com uma boa dose de charme e algumas cenas memoráveis…

3 dias ago

Dica Netflix: Filme com Chris Evans baseado em um inacreditável caso real vai salvar a sua noite

Baseado em uma história real de tirar o fôlego, este filme de ação estrelado por…

3 dias ago