Marcel Camargo

Às vezes, é preciso confiar cegamente na pessoa para enxergar sua falta de caráter

Nem podemos imaginar o quanto algumas pessoas são diferentes daquilo que fingem ser. Quando somos sinceros, quando somos verdadeiros, acabamos esperando o mesmo comportamento por parte de todo mundo. Infelizmente, é assim que a gente quebra a cara e se decepciona, porque somos surpreendidos com uma atitude que jamais esperávamos, nem em sonho.

Em um mundo calcado nas aparências, em que a superficialidade das relações se tornou prática comum, autenticidade e transparência são itens de museu. É claro que a gente às vezes maquia um pouco nossas verdades, para não machucar, para agradar, para evitar chateações sem serventia. No entanto, fingir o tempo todo, para todos, em qualquer lugar, para alcançar o que se quer, a qualquer preço, demonstra caráter distorcido, índole má.

É por isso que, muitas vezes, só iremos perceber o quanto de enganação entrou em nossas vidas depois de sermos traídos, enganados, passados para trás. Talvez ninguém fuja a isso, porque a maioria de nós ainda quer acreditar no melhor das pessoas, enxergando o outro a partir do que somos, a partir de parâmetros baseados em nosso próprio coração. E então a gente se ferra, porque o véu do outro uma hora cai, bem na nossa frente.

Não é à toa que temos tanto medo de confiar em alguém, de nos expor, de nos abrir, de procurar ajuda. Medo de que o outro use nossas fragilidades e inseguranças contra nós mesmos, medo de que o outro nos use da pior forma possível, enquanto nos doamos e compartilhamos nosso melhor. Não basta a competitividade no mercado de trabalho, alguns indivíduos ainda competem para ver quem é mais mau caráter.

Como se vê, algumas pessoas só se mostrarão realmente quando depositarmos nelas a nossa confiança, o nosso afeto, com inteireza, de forma autêntica. Talvez aos dissimulados traga dor enxergar a verdade do outro, pois isso os obriga a enfrentar a própria mentira. Não se suportam e inventam, iludem, tentando escapar de si mesmos. Mas atingem o outro, magoam o outro, traem o outro. E a gente carrega uma desilusão imensa e dolorosa.

Mesmo assim, não desista de ser bom e verdadeiro, pois quem perderá nunca será você e sim que fizer mau uso do seu melhor. O que é bom continua na gente, o que é ruim fica no outro.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

Nova série de suspense da Netflix tem 6 episódios viciantes e um desfecho surpreendente

Você não vai querer sair da frente da TV após dar o play nesta nova…

7 horas ago

Somente 3% das pessoas é capaz de encontrar o número 257 na imagem em 10 segundos

Será que você consegue identificar o número 257 em uma sequência aparentemente interminável de dígitos…

8 horas ago

Com Julia Roberts, o filme mais charmoso da Netflix redefine o que é amar

Se você é fã de comédias românticas que fogem do óbvio, “O Casamento do Meu…

20 horas ago

O comovente documentário da Netflix que te fará enxergar os jogos de videogame de outra forma

Uma história impactante e profundamente emocionante que tem feito muitas pessoas reavaliarem os prórios conceitos.

1 dia ago

Nova comédia romântica natalina da Netflix conquista o público e chega ao TOP 1

Um filme charmoso e devertido para te fazer relaxar no sofá e esquecer dos problemas.

1 dia ago

Marcelo Rubens Paiva fala sobre Fernanda Torres no Oscar: “Se ganhar, será um milagre”

O escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme Ainda Estou Aqui,…

2 dias ago