A vida não é de se brincar porque em pleno dia se morre.
Clarice Lispector
Às vezes, fica muito difícil respirar profundamente a vida; a alma parece querer esvair-se, fugir. Sente-se oprimida, e os motivos talvez só ela conheça. Quando a alma pede um tempo, a gente perde o rumo, a alegria e a esperança. Nossos gestos, movimentos e tudo o mais parecem tão lentos, tão vazios, e a vontade é de ir junto com ela, mesmo não sabendo para onde.
Essa sensação desarruma tudo, faz a maior bagunça, e nunca estamos preparados, mesmo sabendo que isto pode acontecer. É assim como o Sol que, de repente, desaparece no meio das nuvens, como o vento que sopra com força e derruba árvores, como uma onda do mar que nos pega desprevenidos e quase nos afoga.
Às vezes, fica muito difícil viver neste mundo do jeito que está. São tantos melindres, tantas vaidades, contrariedades, competições, desamor, voracidade, que a vontade é abandonar o barco. São tantas indiferenças, maus tratos, obrigações, deveres, contrariedades, que a vontade é gritar bem alto: “Pare, quero descer”!
Mas descer e fazer o quê, abandonar o barco e ir para onde, dar um tempo e fazer o quê?
Sempre soubemos que viver dá trabalho, mas até aí tudo bem. O que não dá para aceitar, é ver o viver vivendo tão mal assim. O que não dá para aceitar é ver tanta crueldade, tanta indiferença e ignorância, tanta coisa feia e podre.
Às vezes, fica muito difícil ficar mudo, cego e surdo, permanecer em nosso lugar, não meter o nariz onde não fomos chamado, não colocar a colher em briga de marido e mulher, fazer-se de “mané”, ser paciente e esperar pela nossa vez.
Frente a tantas irregularidades, excesso de mau caráter, falta de vergonha, de abuso de poder ou tantas outras mazelas, o desânimo acaba por falar mais alto.
Desculpem-me, mas…
Às vezes, fica muito difícil viver…
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