Marcel Camargo

Às vezes, o amanhã não traz esperança

O amanhã, na maioria das vezes, pode ser tido como um depósito de sonhos e de esperanças, em que novas possibilidades e oportunidades nos aguardam, para que avancemos em direção à realização de nossos objetivos. No entanto, em determinadas situações, o dia seguinte é um dia que gostaríamos de pular, de protelar, de afastar, um dia em que nem gostaríamos de acordar.

Levamos muitos tombos ao longo da vida, mas algumas rasteiras parecem nos tirar o que tínhamos de mais precioso e, nesses momentos, temos a sensação de que continuar a viver será impossível. Quanta dor sentimos que nos aguarda no dia seguinte a uma tempestade avassaladora, quando teremos que enfrentar, no amanhã, o primeiro dia sem a presença de um ente querido, sem ter um emprego para voltar, sem o amado, sem o amigo, sem a casa, sem uma parte insubstituível de nossos corações. Dói fundo.

A noite sem fim de um dia traiçoeiro escurece lá fora e nos escurece por dentro, retirando-nos qualquer traço de luz, de esperança, de tranquilidade. Deitar-se para dormir, tendo que acordar num dia assustadoramente novo é uma das piores sensações que sentimos, pois ali, naquele instante, nada mais parece ter sentido nem solução, nada mais tem importância, pois estamos imersos na dor lancinante de uma perda que nos assola.

Muito pouco adiantarão quaisquer tentativas alheias de motivação, pois as palavras de consolo então não trarão conforto à dor imensurável que se instalou dentro de quem sofreu um sofrimento irreparável. Dependendo da dor que nos aniquila, será inútil tentar nos convencer de que a vida voltará ao normal, pois o tempo não trará esquecimento, não reparará o que se perdeu, não trará aquela pessoa de volta.

Teremos que continuar, teremos que tentar sobreviver às perdas e viver sem aquilo que tínhamos como certo, com a consciência de que nada voltará a ser como antes, de que renascer é preciso, apesar de tudo. Será necessário reconstruirmos nossa vida, conscientes de que será demorado e doloroso, mas que voltaremos a ter forças, a sorrir, a cantar, a sentir. Seremos outros, às vezes um pouco menos do que outrora, faltando um pedaço que seja, mas respiraremos.

Porque somos feitos de alegria e de dor. Porque só por isso é que somos humanos, imperfeitos, sobreviventes dessa vida incontrolável, que nos testa a fé e a resistência, para que nos reinventemos e acreditemos numa força maior que nos compensará, algum dia, em algum momento, com a imortalidade do amor verdadeiro.

***

Acompanhe também a página do autor em Prof Marcel Camargo

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

Tire as crianças da sala antes de dar o play nesta série cheia de segundas intenções na Netflix

Uma série perfeita para maratonar em um fim de semana, com uma taça de vinho…

2 dias ago

Você não vai encontrar outro filme mais tenso e envolvente do que este na Netflix

Alerta Lobo ( Le Chant du Loup , 2019) é um thriller tenso e envolvente…

2 dias ago

Trem turístico promete ligar RJ e MG com belas paisagens a partir de 2025

Uma nova atração turística promete movimentar o turismo nas divisas entre o Rio de Janeiro…

2 dias ago

Panetone também altera bafômetro e causa polêmica entre motoristas

O Detran de Goiás (Detran-GO) divulgou uma informação curiosa que tem gerado discussão nas redes…

2 dias ago

Homem com maior QI do mundo diz ter uma resposta para o que acontece após a morte

Christopher Michael Langan, cujo QI é superior ao de Albert Einstein e ao de Stephen…

3 dias ago

Novo filme da Netflix retrata uma inspiradora história real que poucos conhecem

O filme, que já figura entre os pré-selecionados do Oscar 2025 em duas categorias, reúne…

3 dias ago